sábado, 27 de agosto de 2011

SANGUE LATINO - UMA ENTREVISTA COM EDUARDO GALEANO.

Olá meus amigos
Para quem não pode assistir as entrevistas do programa Sangue Latino, destaco aqui a do escritor Eduardo Galeano: http://vimeo.com/18746949 .

segunda-feira, 25 de julho de 2011

ABUSO SEXUAL NÃO TEM GRAÇA

Queridos(as) Leitores(as)
Repasso-lhes uma mensagem importante da
Secretaria Nacional de Mulheres do PSTU


• Talvez você não perceba. Talvez até ache graça. Mas a violência contra as mulheres está sendo incentivada dentro da sua casa, de forma nada sutil, no humorístico Zorra Total. No principal quadro do programa, chamado “Metrô Zorra Brasil”, todos os sábados à noite, duas amigas travam um diálogo dentro do vagão lotado. Na fórmula do roteiro, lá pelas tantas, em todos os episódios, um sujeito se aproxima, encosta e bolina a mulher de várias formas. No episódio do dia 9 de julho, o quadro mostrou a mulher sendo “tocada” em suas partes íntimas com a “batuta” de um maestro.
A mulher atacada, Janete (Thalita Carauta), cochicha com sua amiga Valéria (Rodrigo Sant’anna), que, ao invés de defendê-la, diz: “aproveita. Tu é muito ruim, babuína. Se joga”. A claque ri.
O ataque relatado pelo programa acontece todos os dias com milhares de mulheres no nosso país. Só nós mulheres podemos medir a humilhação pela qual passamos nos trens e ônibus lotados e suas consequências. Não tem graça.
No metrô de São Paulo, o mais lotado do mundo, numa manhã de abril, uma jovem trabalhadora foi violentada sexualmente num vagão da linha verde, considerada uma das melhores. Um crápula a segurou pelo braço, ameaçou, enfiou a mão sob sua saia, rasgou sua calcinha e a tocou. Os passageiros perceberam, tentaram agir, mas o homem fugiu. O caso foi registrado como estupro na 78º DP da capital paulista. Impossível rir disso.
É sabido que a Rede Globo nunca foi uma defensora das mulheres e da diversidade. Neste momento mesmo, o diretor-geral da emissora exigiu que os autores da novela Insensato Coração acabassem com comentários favoráveis às bandeiras gays, e recomendou menos ousadia nas cenas entre os dois personagens homossexuais.
Mas o Zorra Total foi longe demais. O quadro do programa incentiva a violência contra às mulheres e o estupro, de uma forma sistemática, já que o ataque é parte da estrutura permanente do texto. Ou seja, todas as semanas, a Rede Globo diz que as mulheres que sofrem abuso sexual devem “aproveitar” e “agradecer”, como se fosse uma dádiva.
Repete a lógica do humorista Rafinha Bastos que, pelo Twitter, escreveu que as feias deveriam agradecer ao serem estupradas. E está sendo processado por isso.
O quadro tem alcançado liderança de audiência nas noites de sábado, atingindo cerca de 25 pontos de audiência. Ou seja, milhões de lares recebem toda semana a mensagem de que é natural abusar sexualmente de mulheres no metrô, nos trens, nos ônibus. Não é preciso muito para saber que o quadro certamente terá efeitos sobre esse público, naturalizando a violência contra a mulher, diminuindo a gravidade de um crime, tornando-o algo menor, sem importância.
Essa brincadeira não tem graça. É no mínimo lamentável que o talento da dupla de humoristas esteja sendo desperdiçado em um quadro que incentiva o ataque às mulheres trabalhadoras. É revoltante que a emissora líder mantenha um programa que defende práticas tão nefastas, num país onde uma mulher é violentada a cada 12 segundos; onde uma mulher é assassinada a cada duas horas; onde 43% das mulheres sofrem violência doméstica.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

REFLETINDO SOBRE REALENGO.

Queridos Leitores
Os acontecimentos envolvendo a escola municipal Tasso da Silveira causaram perplexidade. Somam-se a estes, outros assassinatos cometidos contra  crianças e jovens brasileiros. O sensacionalismo da mídia, muita comoção, muitas explicações nos deixaram e nos deixam ainda mais atordoados.  
Fiquei em silêncio. Não sabia o que dizer. 
Nesse momento, algumas vozes começam a fazer sentido para mim, por isso quero compartilhar uma delas com vocês, refiro-me ao artigo do Contardo Calligaris.
Um abraço.


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A matança nos dá uma lição sobre os riscos do aparente consolo oferecido pelo fanatismo moral e religioso

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1) EM MARÇO de 2009, em Wendlingen, Alemanha, um jovem de 17 anos entrou no colégio do qual ele tinha sido aluno e começou uma matança que terminou com seu suicídio e custou a vida a 15 pessoas.

Na época, notei que, para os suicidas-assassinos de massa, encarnar o anjo da morte é sempre uma demonstração pública. E perguntei: uma demonstração de quê?

Pois é, num mundo dominado por máscaras e aparências, talvez os únicos eventos que se destaquem por serem indiscutivelmente reais sejam o nascimento e a morte. Nessa ótica, as meninas, para nos obrigar a levá-las a sério, podem engravidar e dar à luz. Quanto aos meninos, o que lhes sobra para serem levados a sério é morrer ou matar.

Por isso as meninas pensam no amor, e os meninos, na guerra; as meninas sonham em ser mestres da vida, os meninos sonham em ser mestres da morte.

Em suma, atrás da singularidade das razões de cada um, os suicidas-assassinos (todos homens) parecem agir na tentativa desesperada de se levarem a sério e de serem, enfim, levados a sério: "O mundo me despreza e me desprezará mais ainda, mas, diante de meu ato mortífero, não poderá negar que sou gente grande, um "macho de respeito'".

Mais um detalhe. Cada vez mais, a preservação da vida parece ser nosso valor supremo. Todos estão dispostos a qualquer coisa para não morrer; não é estranho que, de repente, aos olhos de alguns, a verdadeira marca de superioridade pareça ser a facilidade em matar e se matar.

2) É possível que a vida escolar de Wellington, o assassino de Realengo, tenha sido um suplício. Mas a simples vingança pelo bullying sofrido não basta para explicar seu ato. Eis um modelo um pouco mais plausível (e infelizmente comum).

Durante sua adolescência, um jovem é zombado pelos colegas e, sobretudo, pelas meninas que despertam seu desejo. Para se proteger contra a recusa e a humilhação, o jovem se interdita o que ele deseja e que lhe está sendo negado: "As meninas que eu gosto riem de mim e de meu desejo por elas; para não me transformar numa piada, farei da necessidade virtude: entrarei eu mesmo em guerra contra meu desejo. Ou seja, transformarei a exclusão e a gozação num valor: não fui rechaçado, eu mesmo me contive -por exemplo, porque quero me manter ilibado, sem mancha".

Wellington, o assassino de Realengo, na sua carta de despedida, pede para não ser contaminado por mãos impuras. Difícil não pensar no medo de ele ser contaminado por suas próprias mãos, e no fato de que a morte das meninas preservaria sua pureza, libertando-o da tentação.

A matança, neste caso, é uma maneira de suprimir os objetos de desejo, cuja existência ameaça o ideal de pureza do jovem. Ora, é graças a esse ideal que ele transformou seu fracasso social e amoroso numa glória religiosa ou moral. Como se deu essa transformação?

Simples. Para transformar os fracassos amorosos em glória, o fanatismo religioso é o cúmplice perfeito. Funciona assim: você é isolado? Sente-se excluído da festa mundana? Pois bem, conosco você terá uma igreja (real ou espiritual, tanto faz) que lhe dará abrigo; ajudaremos você a esquecer o desejo de participar de festas das quais você foi e seria excluído, pois lhe mostraremos que esse não é seu desejo, mas apenas a pérfida tentação do mundo. Você acha que foi rechaçado? Nada disso; ao contrário, você resistiu à sedução diabólica. Você acha que seu desejo volta e insiste? Nada disso, é o demônio que continua trabalhando para sujar sua pureza.

Graças ao fanatismo, em vez de sofrer com a frustração de meus desejos, oponho-me a eles como se fossem tentações externas. As meninas me dão um certo frio na barriga? Nenhum problema, preciso apenas evitar sua sedução -quem sabe, silenciá-las.

Fanático (e sempre perigoso) é aquele que, para reprimir suas dúvidas e seus próprios desejos impuros, sai caçando os impuros e os infiéis mundo afora.

Há uma lição na história de Realengo -e não é sobre prevenção psiquiátrica nem sobre segurança nas escolas. É uma lição sobre os riscos do aparente consolo que é oferecido pelo fanatismo moral ou religioso. Dito brutalmente, na carta sinistra de Wellington, eu leio isto: minha fé me autorizou a matar meninas (e a me matar) para evitar a frustrante infâmia de pensamentos e atos impuros.

terça-feira, 8 de março de 2011

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

PINTOR DE MULHER

Este pintor
sabe o corpo feminino e seus possíveis
de linha e de volume reinventados.
Sabe a melodia do corpo em variações entrecruzadas.
Lê o código do corpo, de A ao infinito
dos signos e das curvas que dão vontade de morrer
de santo orgasmo e de beleza.

(Carlos Drummond de Andrade, Corpo)

LEI ESTADUAL Nº 1209 - ESTACIONAMENTOS DE SHOPPINGS

Olá meus amigos.
Êta vida corrida!
Volto este ano com a notícia sobre essa lei. Será que é pra valer? Vamos testar?

Lei aprovada! Vitória! Enfim a Lei do estacionamento em shopping!!
A lei do estacionamento em Shoppings, já está vigorando.
‘Lei Gratuidade de Estacionamento' - Lei Estadual nº 1209/2004.
A caixa sabe, porém, só faz se vc pedir.
É necessário que o valor da compra no shopping onde vc estacionou seja 10 vezes maior que o valor do estacionamento.
Exemplo:
Se o valor do estacionamento é de R$3,00 e vc gastou R$ 30,00 no shopping, com qualquer coisa, alimentação, roupa ...
Peça o cupom fiscal e apresente ao caixa do estacionamento.
Eles terão que carimbar e validar o ticket, sem você precisar gastar nada mais.
Espalhem a informação, pois é Lei.
Apareceu inclusive no jornal da Globo.
Essa funciona mesmo, mas, é claro que os shoppings não farão propaganda disso!
Avise aos seus amigos!!!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

NATAL E ANO NOVO.

DESEJO UM ÓTIMO NATAL A TODOS E QUE, EM 2011,
POSSAMOS SEGUIR COM LEVEZA OS RUMOS QUE A VIDA NOS SUGERE. 

El milagro

Porque si llega, cuando llegue,
legará como es:
fácil, claro, sencillo,
sin grandes resplandores,
sin que la tierra tiemble,
sin que el cielo se nuble.
Será suave y fraterno
con su mano en tu hombro.
No habrá cambiado casi nada:
sólo tu corazón.

Raúl Gustavo Aguirre











terça-feira, 7 de dezembro de 2010

PEÇA: FIO DAS MISSANGAS.

Queridos(as), se estiverem em Campinas, não percam o espetáculo: Fio das Missangas, peça baseada na obra do escritor moçambicano Mia Couto e apresentada pelo Curso Livre de Teatro.
Data: 10, 11 e 12 de dezembro sempre às 20h
Local: Barracão Teatro, Rua Eduardo Modesto, 128,
Vila Santa Izabel, Barão Geraldo – Campinas -SP
Reservas: 19-3829-4275 begin_of_the_skype_highlighting 19-3829-4275 end_of_the_skype_highlighting

UMA ENTREVISTA COM A DIRETORA DA PEÇA MELISSA LOPES:
Melissa Lopes, uma vida que se confunde com o teatro

A prosa mística, social e poética do escritor moçambicano Mia Couto será tema da próxima peça encenada pelo Curso Livre de Teatro do Barracão Teatro, que fica em Barão Geraldo, Campinas. A peça, com estreia marcada para a próxima sexta-feira (10/11), é baseada no livro de contos O fio das missangas que conserva, na sutileza das histórias curtas, as características essenciais da obra de Mia Couto, dentre elas, a presença de uma África onde graça a corrupção e o abandono, bem como de uma linguagem rica em metáforas e instantes poéticos que divide as páginas com as histórias fantasiosas e, ao mesmo tempo, bastante próximas da realidade de todos nós.

Se a inspiração para a peça vem das linhas literárias de Mia Couto, a organização do espetáculo e o preparo dos atores vêm da diretora Melissa Lopes, com a assitência de direção de Ana Clara Amaral e Eduardo Brasil, coordenador do Curso Livre de Teatro.

Melissa é formada em artes cênicas pelo Instituto de Artes da Unicamp e hoje trabalha como atriz pesquisadora e desenvolve projetos junto ao Grupo Matula Teatro, do qual faz parte há dez anos. O Grupo Matula, sediado em Barão Geraldo desde 2000, tem como proposta principal uma criação artística aliada ao olhar sobre a exclusão social, e dentro desta proposta desenvolve atividades fundamentadas no trabalho do ator, o que envolve criação e apresentação de espetáculos e metodologias de criação de personagens por meio da mimesis corporea e da máscara.

Para ampliar e aperfeiçoar o desenvolvimento de suas atividades, o Matula mantém algumas parcerias com outros importantes grupos de teatro da região de Campinas, como O LUME, o Boa Companhia e o Barracão Teatro. Na direção da peça Fio das Missangas, Melissa coloca em prática sua proposta de desenvolver atividades que tenham como base a preparação do ator e, neste caso, encara o desafio de trabalhar com pessoas que não são atores profissionais, mas que, segundo ela, “são apaixonados por teatro”.

Em entrevista concedida ao blog Educação Política, Melissa conta um pouco sua história profissional, fala sobre o prazer em trabalhar com novos atores e conta um pouco do desafio em trazer a prosa de Mia Couto para os palcos, desafio enfrentado não só por ela, mas principalmente pelos atores que, como ela mesma diz, precisam transcender o que está escrito no papel para poder traduzir em ação imagens nem sempre fáceis, que falam apenas no silêncio de uma prosa com gosto de poesia a costurar o tempo, a memória, a vida!

Agência Educação Política: Como se deu a relação com o teatro ao longo da sua vida? De que forma ele esteve presente em meio a planos, projetos e realizações que resvalam tanto no campo pessoal quanto profissional?

Melissa: Comecei no teatro com treze anos! Motivada por um professor de Educação Artística entrei para o grupo de teatro da escola. Foi amor à primeira vista! Até então eu só me imaginava jogando vôley, embora jovem, já fazia parte da seleção da minha cidade, Guarulhos/SP. Sempre gostei de atividades coletivas, tanto no vôley, como no teatro precisamos ter contato com mais pessoas e isso me estimulava muito. Aos 15 anos, decidi que queria ser atriz, me inscrevi na seleção do curso profissionalizante Teatro Escola Célia Helena e fui aprovada. Desde então não parei mais… aos 18 anos achei que precisava dar continuidade aos estudos, prestei vestibular em Artes Cênicas, na Unicamp e fui aprovada. No terceiro ano da faculdade, entrei num projeto que tinha como foco a metodologia de mímesis corpórea desenvolvida pelo LUME-Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp. Este projeto visava à observação de moradores de rua, na cidade de Campinas. Deste contato surgiu um projeto de extensão na Universidade, “Arte e Exclusão Social”(em 2011 está previsto o lançamento de um livro relatando esse trabalho) e nasceu o Grupo Matula Teatro, do qual faço parte há dez anos.

Melissa como artista de circo no espetáculo Gran Circo Máximo, do Grupo Matula Teatro

Desse trabalho com a população de rua, desenvolveu-se a linguagem estética do grupo e que nos guia até hoje, uma criação artística aliada ao olhar sobre a exclusão social. Já trabalhamos com mulheres assentadas do MST, mulheres que vivem na periferia e famílias de circo que rodam pelas periferias das grandes cidades. Paralelamente sempre continuei na Universidade, atualmente faço doutorado, já trabalhei em diversas instituições de ensino técnico e superior.



AEP: A prosa de Mia Couto é considerada no meio literário como representante de uma das mais belas e expressivas tradições da literatura de cunho regionalista e relevância social. O escritor alia temas da realidade social e humana de uma África que ele diz explorada e abandonada pelos próprios africanos a uma linguagem mística fortemente poética que combina a graça e sutileza de inúmeras metáforas a um encantamento que prende o leitor em uma narrativa que beira as raias do fantástico. Por que Mia Couto para o teatro?

Qual a melhor forma de traduzir palavras inscritas na forma muda das letras em voz, expressão corporal e existência plena sobre o palco?

Melissa: O Matula estreou esse ano em parceria com o ator Eduardo Okamoto, o espetáculo Chuva Pasmada, baseado em um conto de Mia Couto. Montar os contos do livro “O fio das Missangas” foi uma coincidência boa, as palavras de Mia são pura poesia e memória, por mais que ele se dirija à realidade da África, nos identificamos com cada uma das histórias porque os temas tratados são universais.

Quando digo que foi uma coincidência, isso se deve ao fato dos alunos do Curso Livre de Teatro terem pedido para montar um espetáculo a partir de imagens do cotidiano que muitas vezes não enxergamos. Muitos dos contos que fazem parte do livro O Fio das Missangas aborda essa questão, então foi um bom casamento.

A melhor forma de traduzir a literatura para o teatro é brincar com as imagens que o autor nos oferece e saborear cada uma das palavras que aparecem nos contos. Muitas das imagens que surgem são bem difíceis de traduzir em ação, o que gera um desafio grande para os atores, pois eles precisam transcender o que está escrito no papel.
Curso Livre de Teatro durante ensaio da peça Fio das Missangas

AEP: Você acredita que um texto literário quando bem interpretado no espaço teatral é potencializado e passa por uma espécie de resgate da sua essência primeira e original? Daquilo que nele pulsa e vive por meio das letras, das decisões linguísticas, do virtuosismo estético e da construção formal?

Melissa: Sim. Mas os envolvidos no processo da montagem teatral precisam se deixar contagiar por cada uma das imagens e dar importância a cada uma das palavras escritas pelo autor. O Fio das Missangas começa com a seguinte expressão: “A missanga, todos a vêem. Ninguém nota o fio que em colar vistoso vai compondo as missangas. Também assim é a voz do poeta, um fio de silêncio costurando o tempo”. Esta epígrafe revela um pouco o que Mia Couto pensa sobre a função ética do poeta: dar voz àquilo que as pessoas veem, mas não enxergam.
Assim também é o papel que o ator deve desempenhar em cena: levar ao palco aquilo que o espectador não enxerga ou simplesmente se esqueceu que existe.
AEP: A um autor anônimo do século XX, atribui-se o seguinte pensamento: “o ser humano é um animal místico”. Serviria esse pensamento como uma espécie de epígrafe auto-explicativa para a obra de Mia Couto não por defini-la, posto que em literatura ou arte as coisas não passam pelo crivo da definição que limita, mas por revelá-la?
Melissa: Pensando na obra de Mia Couto eu complementaria a frase: “o ser humano é um animal místico, mas que ao mesmo tempo é de carne e osso e traz consigo um arsenal de memória”. Nos textos de Mia, as dores e os prazeres que permeiam as histórias são tão reais, que muitas vezes ecoam no leitor e acontece um processo de identificação.
AEP: Teatro por teatro seria ele uma forma de fugir da realidade ou de encontrar-se novamente com ela?
Melissa: As duas coisas! O Teatro é a arte do encontro! Encontro com o sombrio, com o obscuro, o que dá medo…encontro com o desejo, com o que enobrece. Encontro com o outro, encontro consigo…
AEP: No Barracão Teatro você trabalha com atores que não são atores por profissão, ou seja, eles trabalham em outras áreas, mas buscam o teatro como forma de expressão, talvez de existência plena fora dos limites e condicionamentos de uma sociedade que cede cada vez menos aos impulsos e às emoções, sendo praticamente invadida por um corrente de razão e informação. Como é o trabalho com esse atores? O desafio é maior, há alguma diferença em trabalhar com eles e com atores formados na área e que se dedicam exclusivamente ao teatro?
Melissa: Nenhum grupo de alunos é igual, independentemente se são atores profissionais ou não. No caso específico desse grupo que formou a turma de 2010 do Curso Livre de Teatro existiu uma relação bem diferenciada, pois embora seja uma turma muito eclética (um jornalista, um engenheiro de petróleo, uma cineasta, uma dançarina, uma terapeuta ocupacional, um filósofo, um músico, um administrador e um estudante de ensino médio), todos são apaixonados por teatro! Eles compraram a idéia do espetáculo desde o início e trabalharam muito dentro e fora de cena, os adereços, figurinos, trilha sonora e a produção foram feitas por eles e essa é uma qualidade muito difícil de conquistar em um grupo.
Quando trabalhamos com atores profissionais, é muito comum ver uma preocupação com a técnica, aos poucos aquele brilhinho apaixonado que aparece nos olhos vai sumindo e o mais importante é a performance, o desempenho como ator.
Isso acontece ao contrário em alunos que não tem o teatro como profissão, pois eles não se preocupam tanto com isso e ao mesmo tempo se deixam atravessar pela história, pelos personagens e principalmente pelo prazer de estar em cena.
Ambas experiências são desafiadoras e estimulantes. No meu caso, quando sou professora me sinto contagiada e provocada a criar quando encontro uma turma tão animada quanto essa do Curso Livre de Teatro.
AEP: Qual é o mundo que você vê quando está no palco, quando surpreende-se na personagem, quando divisa a plateia?
Melissa: Quando estou em cena eu vivo a personagem! É muito diferente a cada espetáculo e a cada plateia. Por exemplo, no Matula, atualmente eu faço parte de dois espetáculos, o Gran Circo Máximo e o Agda. No primeiro faço uma artista de um circo decadente, esse circo só tem três artistas trabalhando, por isso dentro do espetáculo faço pelo menos cinco personagens internacionais, exatamente como vimos na realidade das famílias de circo que rodam pela periferia de Campinas e região. O espetáculo é cheio de detalhes, não tem muito tempo para pensar, eu entro e saio de cena cada hora com um figurino. Com relação à platéia, a peça acontece em uma pequena lona de circo, a relação é muito próxima, se eu sair da personagem, o público percebe, mas o espetáculo é tão intenso que não dá tempo para isso, ali eu sou a Diodene Herrera que quer muito que o circo sobreviva!
Já no caso de Agda, baseado no conto da Hilda Hilst, o texto é inteiramente poético e dramático, faço um personagem masculino (Celônio) e outro feminino (Agda) com mais duas atrizes em cena, a atenção é voltada para a palavra e as imagens que são geradas por ela. É bem difícil, mas ao mesmo tempo é uma delícia se colocar no lugar desses personagens, falar de amor, falar de vida, me faz refletir e repensar sobre minha própria vida. Neste caso, a relação com o espectador é distante, o texto é bem complicado, então eu tenho que estar totalmente envolvida senão o espetáculo não acontece.
AEP: Na sua opinião, o que é mais importante para um ator ou qualquer artista de forma geral: o aplauso ou o silêncio?
Melissa: Acho que nenhum dos dois, o mais importante é o tempo presente. Explico, quando me apresento para uma platéia, aquela uma hora em que acontece o espetáculo é um momento entre eu e o espectador que jamais poderá ser repetido, e por isso se torna um instante sagrado.
Tem outro momento que também acho muito importante e que poucos atores comentam, que são os últimos 5 minutos antes do espetáculo começar. Eu fico bem nervosa, ali eu faço acordo com o “Divino”, dedico o espetáculo para alguém especial e sem pensar muito entro em cena com frio na barriga. Depois, em cena, me delicio!
AEP: O que é o teatro pra você em uma palavra?
Melissa: Vida (mas, acho que diria: A Minha Vida)
E a arte?
Melissa: Paixão (dessas que movimenta e gera movimento)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ENEM

Meus queridos leitores, no blog do Luis Nassif podemos encontrar um excelente artigo do Altamiro Borges sobre o Enem. Não percam a oportunidade de fazer essa leitura, porque trata-se de uma informação que traz um certo alento em meio às notícias que insistem em desconsiderar o que dá certo neste país.
Um beijo.



http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-escola-do-mst-no-enem
Enviado por luisnassif, qua, 17/11/2010 - 15:39
Do Blog do Miro

Escola do MST recebe melhor nota do Enem

Por Altamiro Borges

Nos últimos dias, a mídia demotucana tem feito um grande alarde contra o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Devido a falhas lamentáveis em algumas provas, ela decidiu transformar o assunto na sua primeira bandeira de oposição ao futuro governo Dilma Rousseff. De quebra, ainda presta um serviço à poderosa indústria do vestibular e às faculdades privadas. O Grupo Folha, dono da gráfica que imprimiu as provas irregulares, é um dos que mais fustiga o Enem.

Com sua cobertura enviesada e manipuladora, a mídia omite fatos curiosos do Enem. Um deles, que ela nunca divulgaria, é que a Escola Semente da Conquista, localizada no assentamento 25 de Maio, em Santa Catarina, foi o destaque do Exame Nacional em 2009, conforme noticiado na página oficial do Enem. Ela ocupou a primeira posição no município, com nota de 505,69.

Semente da Conquista

Nesta escola estudam 112 filhos de assentados, de 14 a 21 anos. Ela é dirigida por militantes do MST e os professores foram indicados pelos próprios assentados do município de Abelardo Luz, cidade com o maior número de famílias assentadas no estado. São 1.418 famílias, morando em 23 assentamentos. A primeira colocação no Enem foi comemorada pelas famílias de sem-terra.

A mídia, porém, nada falou sobre esta vitória. Segundo o sítio do MST, "essa conquista, histórica para uma instituição de ensino do campo, ficou fora da atenção da mídia, como também é pouco reconhecida pelas autoridades políticas de nosso estado. A engrenagem ideológica sustentada pela mídia e pelas elites rejeita todas as formas de protagonismo popular, especialmente quando esses sujeitos demonstram, na prática, que é possível outro modelo de educação".

"A Escola Semente da Conquista é sinal de luta contra o sistema que nada faz contra os índices de analfabetismo e êxodo rural. Vale destacar que vivemos numa sociedade em que as melhores bibliotecas, cinemas, teatros são para uma pequena elite... Mesmo com todas as dificuldades, a escola foi destaque entre as escolas do município. Este fato não é apenas mérito dos educandos, mas sim da proposta pedagógica do MST, que tem na sua essência a formação de novos homens e mulheres, sujeitos do seu processo histórico em construção e em constante aprendizado".

terça-feira, 19 de outubro de 2010

ELEIÇÃO E DEMOCRACIA.

Queridos(as)

No endereço:  http://www.youtube.com/watch?v=0j6jgDs7gMQ
Marilena Chauí fala sobre eleição e democracia.

Neste outro video: http://www.youtube.com/watch?v=reuczA7VMc0

vocês encontrarão cenas do ato que reuniu artistas e intelectuais, ontem, dia 18, na cidade do Rio de Janeiro.

Um grande abraço.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

M I S AGITA A CIDADE DE CAMPINAS.

Prezados(as) leitores(as).
O Museu da Imagem e do Som da cidade de Campinas está com uma programação esplêndida.
Acompanhem a agenda.

Local: MIS Campinas. Rua Regente Feijó, 859. Centro. Entrada Gratuita.

Sábado 16/10
16h - Mesa de abertura: "Experiências de Comunicação Popular"
Col. Comunicadores Populares (Cps), Col. de Vídeo Popular (São Paulo), Cia Estudo de Cena (São Paulo), Passa Palavra (São Paulo), Nossa Tela (São Paulo)
sessão 01 - 19h30
"Radix" » Músicos, poetas, videomakers e coletivos de tribos urbanas mostram suas várias particularidades e semelhanças na ação do querer-mudar.
"Periferia Luta" » Denúncia dos abusos promovidos por grandes empresas e pelo Estado nas quebradas da periferia de São Paulo.
"A gente faz TV pensando POR você" » Contra-propaganda que sugere quem de fato tem o controle dos controles remotos.
"Fulero Circo - O Mistério do Novo" » Uma trupe de desempregados e trabalhadores ocasionais viajam pelo país apresentando seu espetáculo “O mistério do novo”, uma investigação sobre os dias de hoje.

Domingo 17/10

16h - DEBATE: "mulheres unidas na luta e na vida"
Kelli Maforte (Dir. MST), Soraia Aparecida da Silva (Col. Mulheres "Luiza Mahim", MST Cps), Profª Maria Orlando Pinassi (Unesp Araraquara)

sessão 02 - 19h30

"Prestes 23+10" » A história de Severino e Roberta na ocupação Prestes Maia: a luta pela moradia e pela manutenção de sua biblioteca de livros retirados do lixo.

"Existe política além do voto" » Relato das opiniões de trabalhador@s sobre o processo eleitoral brasileiro.

"Estudo de cena: a república" » Constituição da república no país de Jericó. Livre adaptação do texto “O 18 brumário de Luis Bonaparte” escrito por Karl Marx em 1852.

"20/11 - Dia da Consciência Negra" » Dia da Consciência Negra em Campinas: ato pela inclusão racial, contra o racismo, a intolerância religiosa e o genocídio dos jovens negros.

Segunda 18/10

sessão 03 19h30

"Cruzando o Deserto Verde" » Integrantes do movimento Alerta Contra o Deserto Verde apresentam os impactos socioambientais provocados pela monocultura do eucalipto.

"O mendigo" » Os dramas de um mendigo e seu violão velho ou uma surpreendente e reveladora realidade?

"Parada 2008" » Um olhar sobre a luta contra os preconceitos a partir de um jovem de periferia que está indo para a Parada da Diversidade Sexual de 2008 em Cuiabá.

"Vídeos da Rua" » Dois curtas resultados de oficinas ministradas à militantes de movimentos sociais que lutam por moradia.

Terça 19/10

sessão 04 19h30

"UERJ Ocupada" » Vinte dias de ocupação da reitoria da UERJ (2008) contra o sucateamento da universidade pública.

"Um Passo de Cada Vez: O despertar da cidadania" » Lideranças da Vila Costa e Silva (1º conjunto de casas populares de Campinas) relembram suas lutas.

"Ousar lutar, ousar vencer!" » As lutas dos servidores públicos municipais de Campinas (SP) através de seu sindicato.

"A Identidade da Memória Morta" » Questiona o abandono e a destruição de um rico patrimônio histórico na cidade de Campina Grande (PB).

"25 anos de luta e resistência" » O vídeo aborda os 25 de anos de existência do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, desde 1984, e sua luta e resistência ao lado da classe trabalhadora contra os patrões e governos.

Quarta 20/10

sessão 05 16h

"Camponeses do Araguaia - A Guerrilha vista por dentro" » Camponeses descrevem o massacre da Guerrilha do Araguaia (72-74), palco da resistência armada contra o regime militar.

"A comunidade do Dom Bosco contra o fechamento da escola Dom Orione" » A luta de moradores do bairro Dom Bosco em Juiz de Fora-MG contra o fechamento da escola estadual Dom Orione.

"Fabrica De Mentiras E Fora Yeda - Tudo Junto E Misturado" » Animação em Stop-motion que aborda as atividades de propaganda contra os atos de corrupção do Governo Yeda Crusius na cidade de Porto Alegre.

19h30 - DEBATE: "Quadrinhos e Resistência"

Com os cartunistas Latuff (Rio de Janeiro), Bira (Campinas), DJ e o Coletivo Miséria (Campinas)

Quinta 21/10

16h sessão 06

"Construindo Identidades" » Estudantes do antigo Cursinho do Sindicato (Campinas) em contato com o debate sobre os movimentos sociais.

"Paz com voz" » Intervenção ativista na cidade de Araras compondo o Eventos da Luta Antimanicomial, Combate a Homofobia e à Exploração Sexual da Criança e do Adolescente.

"Segredos de Estado" - Por que os professores temem falar sobre a escola? » Relatos de professores da rede pública estadual de São Paulo que tiveram sua liberdade de expressão violada por conta da chamada “lei da mordaça”.

"Memórias Diretas" » Relato histórico da Campanha das Diretas-Já em Campinas, sob o ponto de vista de alguns personagens que fizeram parte desse episódio.

"Caminho das Águas" » A importância das minas de água para as lavadeiras e para o bairro Dom Bosco, em Juiz de Fora (MG), e o descaso dos órgãos oficiais.

sessão 07 19h30

"Levante sua voz" » Remonta o curta “Ilha das Flores” de Jorge Furtado com a temática do direito à comunicação.

"Qual Centro?" » Discute a “revitalização” do centro de São Paulo a partir dos moradores de uma ocupação num posto de gasolina.

"Uma Terra, Uma Vida" » A luta de famílias sem-terra no Mato-Grosso e a ação de Dom Pedro Casaldáliga na defesa dos direitos humanos.

Sexta 22/10

sessão 08 16h

"Atrás da Porta" » A experiência de arrombar prédios e criar novos espaços de moradia

das famílias sem-teto do RJ e seu questionamento da “revitalização urbana”.

sessão 09 19h30

"Assembleia Do Povo" - O que importa é o que a gente é! » Memórias de militantes da Assembléia do Povo, movimento social campineiro feito por favelados entre 79 e 82.

"Entre terras e céus" » A disputa em torno de terras públicas em uma zona limítrofe urbano-rural de Limeira-SP.

"Mais um..." » O vídeo discute o extermínio concreto e simbólico da juventude negra no estado do ES e o mito da democracia racial.

"Na Costa da Minha Mão" » Histórias, lendas danças e descobertas de um sotaque de bumba-meu-boi que ecoa no município de cururupu: o sotaque de costa de mão.

"Bigorna: caindo na real" » Olhar de um grupo de jovens que estão atrás das grades: perspectivas, sonhos, sociedade e liberdade...

"Flaskô: Trincheira de Resistência" » A resistência dos trabalhadores da fábrica ocupada Flaskô (Sumaré) contra a sua decretação de falência (2010).


Sábado 23/10

15h30 - Dança 1: "44 horas"

Processo criativo que tem como estímulo as relações de trabalho em nossa sociedade: a mecanização dos gestos e a coisificação humana. Com Natalia Fernandes, Tata Gouvea, Ana Paula Correia e Aline Brasil

16h00 - Dança 2: "Our Love"

Uma reflexão poética sobre o espaço urbano e a (in)viabilização das realizações afetivas e consequente reafirmação das solidões. Do Coletivo Intermitente Abismo de Sonhos: Edson Calheiros, Poliana Lima, Natalia Fernandes.

17h - bate papo: "O que é arte revolucionária?"

18h - Feira da Mostra Luta

Nos dias 23 e 24 a partir das 18 horas haverá a Feira da Mostra Luta. Tragam seus filmes, revistas, livros, jornais, fanzines, desenhos, discos e outros trabalhos!

sessão 10 19h30

"Trilharestórias" » A relação entre universidade e sociedade problematizada através do projeto de extensão “Trilharestórias” (Unicamp) e sua relação com o MST.

"Espeta-cu-lar" » Curta-metragem ficcional que faz uma crítica à manipulação de informação e alienação gerada pela televisão brasileira.

"A Baía pede Socorro" » Denúncia dos grandes empeendimentos privados na Baía de Sepetiba, RJ. Desenvolvimento para quê? Para quem?

"Haiti - Estamos Cansados" » Retrata o Haiti antes e depois do terremoto questionando o caráter repressivo das tropas da ONU.

"No Olho da Rua" » Através de depoimentos fragmentados e do rap, a realidade de um movimento cultural de resistência.

"Sinfonia Animal" » As relações entre animais humanos e não-humanos permeadas pelos ritos, ritmos e texturas da cidade, ambiente de convívio hierárquico e maquínico.

domingo 24/10

16h - DEBATE "Comunicação nos movimentos sociais: tática ou estratégia?"

(MST, MTST, Flaskô, Identidade, Abraço)

18h - Feira da Mostra Luta

Nos dias 23 e 24 a partir das 18 horas haverá a Feira da Mostra Luta. Tragam seus filmes, revistas, livros, jornais, fanzines, desenhos, discos e outros trabalhos!

19h30 - Sarau de encerramento

Aberto para intervenções, músicas, poesias, projeções!