sábado, 27 de março de 2010

GREVE DOS PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE ENSINO EM SÃO PAULO

Queridos(as) leitores(as)
Alguns professores da rede estadual de ensino e pesquisadores do grupo Violar escreveram um texto sobre a greve dos professores do Estado de S.Paulo. Solicitei a eles permissão para publicar a mensagem em meu blog. Existe também um video que vocês poderão assistir, caso se interessem em buscar mais informações sobre essa greve; trata-se do GREVE DOS PROFESSORES - 2010 - RESPOSTA AO GOVERNADOR: http://www.youtube.com/watch?v=hM_wQM4wNmw


Sim, a greve dos professores do Estado de São Paulo continua! Continua, ainda que o governador tente ignorá-la e ainda que a mídia televisiva e impressa seja omissa em retratar os fatos. Nas duas últimas sextas-feiras a Avenida Paulista foi tomada por professores e estudantes que, em grande marcha, contestaram as mentiras difundidas por José Serra referente à educação de São Paulo.
A Secretaria de Educação afirma que menos de 1% está em greve, mas não é isso que foi visto, Professores de várias cidades do estado demonstraram a força do movimento. O clima era de força, era de luta! E se não podemos contar com alguns meios midiáticos para divulgar essa força, temos outros meios, como a internet, onde também é possível observar a mobilização dos professores.
Enfim, não é possível calar o clamor do povo que lotou a Paulista com seus cartazes, com suas faixas e com a vontade (e necessidade) de serem ouvidos!
Vamos continuar lutando!
Alguns dos motivos...
Resumidamente, tentaremos expor alguns dos motivos que levam a nós professores a não nos calarmos frente às mentiras divulgadas e omitidas pelo governo à população:
1- A divisão em categorias “O”, “L”, “F”, etc, implementada esse ano pelo governo segrega a categoria dos professores. Para que essa diferenciação? Se somos todos professores, não deveríamos ter os mesmos direitos?
2- Professores da categoria “O” terão que ficar 200 dias afastados das salas de aula após término de um contrato. Por exemplo, esse professor, ao substituir uma licença, terá que ficar 200 dias sem trabalhar após o término da mesma. O que ele fará nesse período? Sobre isso, pontuo a realidade de várias escolas, nas quais faltam professores para dar aula e os alunos passam o tempo em que deveriam estar aprendendo em “aulas vagas”;
3- Materiais de péssima qualidade, com erros grosseiros e linguagem não adequada à faixa etária dos alunos, materiais esses que os professores são obrigados a seguir como uma cartilha, não importando as peculiaridades dos alunos atendidos;
4- Índices do IDESP camuflados por meias verdades, como por exemplo, pela baixa taxa de repetência, que na verdade é devido à progressão continuada, e não exatamente à boa qualidade da educação;
5- Salas superlotadas, e sem o prometido “2º professor” na primeira série do Ensino Fundamental I.;
6 – Provas para os ACT’s e a “Progressão por Mérito” (que atingirá no máximo 20% dos professores, como isso será controlado?), nas quais o verdadeiro intuito é passar a idéia de que os professores são os únicos culpados pelo fracasso escolar. Questionamos: Porque só a categoria dos professores tem que passar por humilhantes provinhas?
7- Por fim, as propagandas do governo são enganosas, falam de falsos valores salariais, omitem a miséria do auxílio alimentação e vale-transporte, enfim, omitem a desvalorização salarial da categoria, que não recebe nem ao menos o mínimo reajuste (que seria baseado nos índices de inflação).


sábado, 6 de março de 2010

AMEAÇAS CONTRA LÍDERES DE MOVIMENTOS SOCIAIS


Queridos(as) leitores(as)

Hoje venho pedir a atenção de vocês para um assunto muito grave e diante do qual não podemos nos calar.
Pessoas vinculadas ao Tribunal Popular de São Paulo vêm recebendo ameaças de morte devido a denúncias que registram junto ao Ministério Público. Para quem não sabe, o Tribunal Popular é constituído por profissionais e militantes de várias áreas que além de denunciarem injustiças cometidas contra cidadãos trabalhadores, pobres, oferecem recursos jurídicos para a investigação de mortes por homicídio nas famílias que sofrem perdas e não podem arcar com os custos dessa investigação. Considero que esse tipo de ameaça atinge a todos nós, pois o trabalho do TP tem por objetivo oferecer segurança não somente a todos aqueles que, por falta de recursos financeiros, ficam desamparados ante a Lei como também aprofundar a análise de fatos divulgados pelos meios de comunicação e que nem sempre correspondem aos reais acontecimentos.
Nossa frágil democracia ainda precisa da ajuda de todos nós. O trabalho desenvolvido pelos Tribunais Populares representa uma importante estratégia de defesa de direitos. Existem outras formas de luta, mas a do TP tem sua importância porque “coloca o dedo direto na ferida”. Por isso, endosso minha solidariedade às lideranças dos movimentos sociais, ressaltando a coragem dos(as) companheiros(as) que se expõem em defesa dos direitos humanos e defendem a expansão dos benefícios sociais, políticos, culturais para uma parcela cada vez maior da população brasileira.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O NOME DO PAI

Olá queridos(as) leitores(as)
Hoje vou lhes apresentar uma história intrigante contada pelo meu amigo Mariguela.



Com certa freqüência sou interrogado: "você é parente do Carlos Marighella?" Esta pergunta sempre me perseguiu desde que passei horas numa sala do quartel militar em Campinas onde em cumprimento ao dever cívico, realizei alistamento. "O que você é do Carlos Marighella?", perguntava-me o oficial com uma voz cada vez mais intimidadora. "Não sei quem é Carlos Marighella", respondia com um pavor cada vez maior. Tentava em vão lembrar algum parente com esse nome. De súbito, veio a lembrança de uma cena em 1969: a televisão anunciava a morte do guerrilheiro Carlos Marighella, o inimigo número um da ditadura militar. A imagem de um corpo baleado dentro de um fusca e o nome Marighella pronunciado produziu rápida associação levando minha mãe ao desmaio. Naquele mesmo dia, meu pai viajava num fusca branco comprando plantações de goiabas e tomates nos sítios da região noroeste do Estado de São Paulo.
Nada disse dessa lembrança ao oficial que me interrogava. Num relance, vi o nome Carlos Marighella escrito numa folha sobre a mesa do oficial. Arrisquei timidamente e quase sem voz, a seguinte observação: o meu Mariguela é com gu e não com gh. No pé da letra, consegui ser liberado e ao mesmo tempo engajado numa busca arqueológica do nome do pai.
No livro Batismo de Sangue - Guerrilha e Morte de Carlos Marighella, publicado pela Rocco, Frei Betto narrou a trajetória do líder revolucionário traçando os contornos do regime militar que assumiu o controle do Estado durante a ditadura. Lançado em 1982, o livro ganhou o Prêmio Jabuti na categoria de melhor livro de memórias. Recentemente foi transformado em roteiro de filme. Com essa leitura, meu interesse cresceu em intensidade e impulsionado pela curiosidade infantil, construí minha árvore genealógica para verificar se havia algum grau de parentesco entre meu bisavô paterno e o pai do Carlos.
Descobri que ambos vieram de Ferrara, norte da Itália, no mesmo navio. Augusto Marighella desembarcou na Bahia e apaixonou-se por Maria Rita do Nascimento, negra haussá, vinda da África. Augusto era mecânico e consta que introduziu o martelo de borracha nos serviços de recuperação de lataria. Teve oito com sua africana, Carlos era primogênito. Meu bisavô, Henrique, seguiu viagem pelo litoral e desembarcou no porto de Santos. Na recepção aos imigrantes, seu sobrenome foi aportuguesado em novo registro civil. Seguiu para as fazendas de café na região de Itápolis, interior de São Paulo. Por lá se casou e nasceram doze filhos, meu avô, Ângelo era primogênito.
Ângelo foi alfabetizado por seu pai e assumiu a função de "ensinador das letras", expressão que usava para seu oficio. Alfabetizou todos os seus irmãos e, depois de casado com Apparecida Anjolino, começou a ensinar as letras para os demais colonos na fazenda onde morava. Depois da jornada de trabalho nos campos de café e algodão, os jovens da fazenda se dirigiam à casa do meu avô para aprender a ler e escrever numa grande mesa à luz de lamparinas de óleo. Os que não podiam pagar em dinheiro pagavam com ovos, galinha, porco, etc. Sempre que narrava essa história, meu avô concluía: na família de italiano, para não ser escravo de ninguém, é preciso saber ler e escrever. Ângelo e Apparecida tiveram quatro filhos. Meu pai, era primogênito.
Quando a crise no campo tornou-se uma realidade e a situação financeira ficou insustentável para criar seus filhos, Ângelo mudou-se com a família para a cidade com o propósito de ganhar a vida. Lá trabalhou como mecânico, marceneiro, ferreiro e servente de pedreiro. Aos poucos conseguiu montar uma oficina e foi o primeiro fabricante de charretes e carrocerias de caminhão na cidade. Meu avô era um artesão que conseguia transformar ferro e madeira em diferentes peças para uso doméstico e comercial. Quando seus filhos foram constituir suas próprias famílias, ele fechou a oficina e passou a transportar, com a charrete puxada pelo Baio, os passageiros que embarcavam e desembarcavam na estação de trem que hoje é só ruína de um tempo.


Márcio Mariguela é psicanalista e professor de história da filosofia contemporânea na Unimep.