quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

NATAL E ANO NOVO.

DESEJO UM ÓTIMO NATAL A TODOS E QUE, EM 2011,
POSSAMOS SEGUIR COM LEVEZA OS RUMOS QUE A VIDA NOS SUGERE. 

El milagro

Porque si llega, cuando llegue,
legará como es:
fácil, claro, sencillo,
sin grandes resplandores,
sin que la tierra tiemble,
sin que el cielo se nuble.
Será suave y fraterno
con su mano en tu hombro.
No habrá cambiado casi nada:
sólo tu corazón.

Raúl Gustavo Aguirre











terça-feira, 7 de dezembro de 2010

PEÇA: FIO DAS MISSANGAS.

Queridos(as), se estiverem em Campinas, não percam o espetáculo: Fio das Missangas, peça baseada na obra do escritor moçambicano Mia Couto e apresentada pelo Curso Livre de Teatro.
Data: 10, 11 e 12 de dezembro sempre às 20h
Local: Barracão Teatro, Rua Eduardo Modesto, 128,
Vila Santa Izabel, Barão Geraldo – Campinas -SP
Reservas: 19-3829-4275 begin_of_the_skype_highlighting 19-3829-4275 end_of_the_skype_highlighting

UMA ENTREVISTA COM A DIRETORA DA PEÇA MELISSA LOPES:
Melissa Lopes, uma vida que se confunde com o teatro

A prosa mística, social e poética do escritor moçambicano Mia Couto será tema da próxima peça encenada pelo Curso Livre de Teatro do Barracão Teatro, que fica em Barão Geraldo, Campinas. A peça, com estreia marcada para a próxima sexta-feira (10/11), é baseada no livro de contos O fio das missangas que conserva, na sutileza das histórias curtas, as características essenciais da obra de Mia Couto, dentre elas, a presença de uma África onde graça a corrupção e o abandono, bem como de uma linguagem rica em metáforas e instantes poéticos que divide as páginas com as histórias fantasiosas e, ao mesmo tempo, bastante próximas da realidade de todos nós.

Se a inspiração para a peça vem das linhas literárias de Mia Couto, a organização do espetáculo e o preparo dos atores vêm da diretora Melissa Lopes, com a assitência de direção de Ana Clara Amaral e Eduardo Brasil, coordenador do Curso Livre de Teatro.

Melissa é formada em artes cênicas pelo Instituto de Artes da Unicamp e hoje trabalha como atriz pesquisadora e desenvolve projetos junto ao Grupo Matula Teatro, do qual faz parte há dez anos. O Grupo Matula, sediado em Barão Geraldo desde 2000, tem como proposta principal uma criação artística aliada ao olhar sobre a exclusão social, e dentro desta proposta desenvolve atividades fundamentadas no trabalho do ator, o que envolve criação e apresentação de espetáculos e metodologias de criação de personagens por meio da mimesis corporea e da máscara.

Para ampliar e aperfeiçoar o desenvolvimento de suas atividades, o Matula mantém algumas parcerias com outros importantes grupos de teatro da região de Campinas, como O LUME, o Boa Companhia e o Barracão Teatro. Na direção da peça Fio das Missangas, Melissa coloca em prática sua proposta de desenvolver atividades que tenham como base a preparação do ator e, neste caso, encara o desafio de trabalhar com pessoas que não são atores profissionais, mas que, segundo ela, “são apaixonados por teatro”.

Em entrevista concedida ao blog Educação Política, Melissa conta um pouco sua história profissional, fala sobre o prazer em trabalhar com novos atores e conta um pouco do desafio em trazer a prosa de Mia Couto para os palcos, desafio enfrentado não só por ela, mas principalmente pelos atores que, como ela mesma diz, precisam transcender o que está escrito no papel para poder traduzir em ação imagens nem sempre fáceis, que falam apenas no silêncio de uma prosa com gosto de poesia a costurar o tempo, a memória, a vida!

Agência Educação Política: Como se deu a relação com o teatro ao longo da sua vida? De que forma ele esteve presente em meio a planos, projetos e realizações que resvalam tanto no campo pessoal quanto profissional?

Melissa: Comecei no teatro com treze anos! Motivada por um professor de Educação Artística entrei para o grupo de teatro da escola. Foi amor à primeira vista! Até então eu só me imaginava jogando vôley, embora jovem, já fazia parte da seleção da minha cidade, Guarulhos/SP. Sempre gostei de atividades coletivas, tanto no vôley, como no teatro precisamos ter contato com mais pessoas e isso me estimulava muito. Aos 15 anos, decidi que queria ser atriz, me inscrevi na seleção do curso profissionalizante Teatro Escola Célia Helena e fui aprovada. Desde então não parei mais… aos 18 anos achei que precisava dar continuidade aos estudos, prestei vestibular em Artes Cênicas, na Unicamp e fui aprovada. No terceiro ano da faculdade, entrei num projeto que tinha como foco a metodologia de mímesis corpórea desenvolvida pelo LUME-Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp. Este projeto visava à observação de moradores de rua, na cidade de Campinas. Deste contato surgiu um projeto de extensão na Universidade, “Arte e Exclusão Social”(em 2011 está previsto o lançamento de um livro relatando esse trabalho) e nasceu o Grupo Matula Teatro, do qual faço parte há dez anos.

Melissa como artista de circo no espetáculo Gran Circo Máximo, do Grupo Matula Teatro

Desse trabalho com a população de rua, desenvolveu-se a linguagem estética do grupo e que nos guia até hoje, uma criação artística aliada ao olhar sobre a exclusão social. Já trabalhamos com mulheres assentadas do MST, mulheres que vivem na periferia e famílias de circo que rodam pelas periferias das grandes cidades. Paralelamente sempre continuei na Universidade, atualmente faço doutorado, já trabalhei em diversas instituições de ensino técnico e superior.



AEP: A prosa de Mia Couto é considerada no meio literário como representante de uma das mais belas e expressivas tradições da literatura de cunho regionalista e relevância social. O escritor alia temas da realidade social e humana de uma África que ele diz explorada e abandonada pelos próprios africanos a uma linguagem mística fortemente poética que combina a graça e sutileza de inúmeras metáforas a um encantamento que prende o leitor em uma narrativa que beira as raias do fantástico. Por que Mia Couto para o teatro?

Qual a melhor forma de traduzir palavras inscritas na forma muda das letras em voz, expressão corporal e existência plena sobre o palco?

Melissa: O Matula estreou esse ano em parceria com o ator Eduardo Okamoto, o espetáculo Chuva Pasmada, baseado em um conto de Mia Couto. Montar os contos do livro “O fio das Missangas” foi uma coincidência boa, as palavras de Mia são pura poesia e memória, por mais que ele se dirija à realidade da África, nos identificamos com cada uma das histórias porque os temas tratados são universais.

Quando digo que foi uma coincidência, isso se deve ao fato dos alunos do Curso Livre de Teatro terem pedido para montar um espetáculo a partir de imagens do cotidiano que muitas vezes não enxergamos. Muitos dos contos que fazem parte do livro O Fio das Missangas aborda essa questão, então foi um bom casamento.

A melhor forma de traduzir a literatura para o teatro é brincar com as imagens que o autor nos oferece e saborear cada uma das palavras que aparecem nos contos. Muitas das imagens que surgem são bem difíceis de traduzir em ação, o que gera um desafio grande para os atores, pois eles precisam transcender o que está escrito no papel.
Curso Livre de Teatro durante ensaio da peça Fio das Missangas

AEP: Você acredita que um texto literário quando bem interpretado no espaço teatral é potencializado e passa por uma espécie de resgate da sua essência primeira e original? Daquilo que nele pulsa e vive por meio das letras, das decisões linguísticas, do virtuosismo estético e da construção formal?

Melissa: Sim. Mas os envolvidos no processo da montagem teatral precisam se deixar contagiar por cada uma das imagens e dar importância a cada uma das palavras escritas pelo autor. O Fio das Missangas começa com a seguinte expressão: “A missanga, todos a vêem. Ninguém nota o fio que em colar vistoso vai compondo as missangas. Também assim é a voz do poeta, um fio de silêncio costurando o tempo”. Esta epígrafe revela um pouco o que Mia Couto pensa sobre a função ética do poeta: dar voz àquilo que as pessoas veem, mas não enxergam.
Assim também é o papel que o ator deve desempenhar em cena: levar ao palco aquilo que o espectador não enxerga ou simplesmente se esqueceu que existe.
AEP: A um autor anônimo do século XX, atribui-se o seguinte pensamento: “o ser humano é um animal místico”. Serviria esse pensamento como uma espécie de epígrafe auto-explicativa para a obra de Mia Couto não por defini-la, posto que em literatura ou arte as coisas não passam pelo crivo da definição que limita, mas por revelá-la?
Melissa: Pensando na obra de Mia Couto eu complementaria a frase: “o ser humano é um animal místico, mas que ao mesmo tempo é de carne e osso e traz consigo um arsenal de memória”. Nos textos de Mia, as dores e os prazeres que permeiam as histórias são tão reais, que muitas vezes ecoam no leitor e acontece um processo de identificação.
AEP: Teatro por teatro seria ele uma forma de fugir da realidade ou de encontrar-se novamente com ela?
Melissa: As duas coisas! O Teatro é a arte do encontro! Encontro com o sombrio, com o obscuro, o que dá medo…encontro com o desejo, com o que enobrece. Encontro com o outro, encontro consigo…
AEP: No Barracão Teatro você trabalha com atores que não são atores por profissão, ou seja, eles trabalham em outras áreas, mas buscam o teatro como forma de expressão, talvez de existência plena fora dos limites e condicionamentos de uma sociedade que cede cada vez menos aos impulsos e às emoções, sendo praticamente invadida por um corrente de razão e informação. Como é o trabalho com esse atores? O desafio é maior, há alguma diferença em trabalhar com eles e com atores formados na área e que se dedicam exclusivamente ao teatro?
Melissa: Nenhum grupo de alunos é igual, independentemente se são atores profissionais ou não. No caso específico desse grupo que formou a turma de 2010 do Curso Livre de Teatro existiu uma relação bem diferenciada, pois embora seja uma turma muito eclética (um jornalista, um engenheiro de petróleo, uma cineasta, uma dançarina, uma terapeuta ocupacional, um filósofo, um músico, um administrador e um estudante de ensino médio), todos são apaixonados por teatro! Eles compraram a idéia do espetáculo desde o início e trabalharam muito dentro e fora de cena, os adereços, figurinos, trilha sonora e a produção foram feitas por eles e essa é uma qualidade muito difícil de conquistar em um grupo.
Quando trabalhamos com atores profissionais, é muito comum ver uma preocupação com a técnica, aos poucos aquele brilhinho apaixonado que aparece nos olhos vai sumindo e o mais importante é a performance, o desempenho como ator.
Isso acontece ao contrário em alunos que não tem o teatro como profissão, pois eles não se preocupam tanto com isso e ao mesmo tempo se deixam atravessar pela história, pelos personagens e principalmente pelo prazer de estar em cena.
Ambas experiências são desafiadoras e estimulantes. No meu caso, quando sou professora me sinto contagiada e provocada a criar quando encontro uma turma tão animada quanto essa do Curso Livre de Teatro.
AEP: Qual é o mundo que você vê quando está no palco, quando surpreende-se na personagem, quando divisa a plateia?
Melissa: Quando estou em cena eu vivo a personagem! É muito diferente a cada espetáculo e a cada plateia. Por exemplo, no Matula, atualmente eu faço parte de dois espetáculos, o Gran Circo Máximo e o Agda. No primeiro faço uma artista de um circo decadente, esse circo só tem três artistas trabalhando, por isso dentro do espetáculo faço pelo menos cinco personagens internacionais, exatamente como vimos na realidade das famílias de circo que rodam pela periferia de Campinas e região. O espetáculo é cheio de detalhes, não tem muito tempo para pensar, eu entro e saio de cena cada hora com um figurino. Com relação à platéia, a peça acontece em uma pequena lona de circo, a relação é muito próxima, se eu sair da personagem, o público percebe, mas o espetáculo é tão intenso que não dá tempo para isso, ali eu sou a Diodene Herrera que quer muito que o circo sobreviva!
Já no caso de Agda, baseado no conto da Hilda Hilst, o texto é inteiramente poético e dramático, faço um personagem masculino (Celônio) e outro feminino (Agda) com mais duas atrizes em cena, a atenção é voltada para a palavra e as imagens que são geradas por ela. É bem difícil, mas ao mesmo tempo é uma delícia se colocar no lugar desses personagens, falar de amor, falar de vida, me faz refletir e repensar sobre minha própria vida. Neste caso, a relação com o espectador é distante, o texto é bem complicado, então eu tenho que estar totalmente envolvida senão o espetáculo não acontece.
AEP: Na sua opinião, o que é mais importante para um ator ou qualquer artista de forma geral: o aplauso ou o silêncio?
Melissa: Acho que nenhum dos dois, o mais importante é o tempo presente. Explico, quando me apresento para uma platéia, aquela uma hora em que acontece o espetáculo é um momento entre eu e o espectador que jamais poderá ser repetido, e por isso se torna um instante sagrado.
Tem outro momento que também acho muito importante e que poucos atores comentam, que são os últimos 5 minutos antes do espetáculo começar. Eu fico bem nervosa, ali eu faço acordo com o “Divino”, dedico o espetáculo para alguém especial e sem pensar muito entro em cena com frio na barriga. Depois, em cena, me delicio!
AEP: O que é o teatro pra você em uma palavra?
Melissa: Vida (mas, acho que diria: A Minha Vida)
E a arte?
Melissa: Paixão (dessas que movimenta e gera movimento)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ENEM

Meus queridos leitores, no blog do Luis Nassif podemos encontrar um excelente artigo do Altamiro Borges sobre o Enem. Não percam a oportunidade de fazer essa leitura, porque trata-se de uma informação que traz um certo alento em meio às notícias que insistem em desconsiderar o que dá certo neste país.
Um beijo.



http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-escola-do-mst-no-enem
Enviado por luisnassif, qua, 17/11/2010 - 15:39
Do Blog do Miro

Escola do MST recebe melhor nota do Enem

Por Altamiro Borges

Nos últimos dias, a mídia demotucana tem feito um grande alarde contra o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Devido a falhas lamentáveis em algumas provas, ela decidiu transformar o assunto na sua primeira bandeira de oposição ao futuro governo Dilma Rousseff. De quebra, ainda presta um serviço à poderosa indústria do vestibular e às faculdades privadas. O Grupo Folha, dono da gráfica que imprimiu as provas irregulares, é um dos que mais fustiga o Enem.

Com sua cobertura enviesada e manipuladora, a mídia omite fatos curiosos do Enem. Um deles, que ela nunca divulgaria, é que a Escola Semente da Conquista, localizada no assentamento 25 de Maio, em Santa Catarina, foi o destaque do Exame Nacional em 2009, conforme noticiado na página oficial do Enem. Ela ocupou a primeira posição no município, com nota de 505,69.

Semente da Conquista

Nesta escola estudam 112 filhos de assentados, de 14 a 21 anos. Ela é dirigida por militantes do MST e os professores foram indicados pelos próprios assentados do município de Abelardo Luz, cidade com o maior número de famílias assentadas no estado. São 1.418 famílias, morando em 23 assentamentos. A primeira colocação no Enem foi comemorada pelas famílias de sem-terra.

A mídia, porém, nada falou sobre esta vitória. Segundo o sítio do MST, "essa conquista, histórica para uma instituição de ensino do campo, ficou fora da atenção da mídia, como também é pouco reconhecida pelas autoridades políticas de nosso estado. A engrenagem ideológica sustentada pela mídia e pelas elites rejeita todas as formas de protagonismo popular, especialmente quando esses sujeitos demonstram, na prática, que é possível outro modelo de educação".

"A Escola Semente da Conquista é sinal de luta contra o sistema que nada faz contra os índices de analfabetismo e êxodo rural. Vale destacar que vivemos numa sociedade em que as melhores bibliotecas, cinemas, teatros são para uma pequena elite... Mesmo com todas as dificuldades, a escola foi destaque entre as escolas do município. Este fato não é apenas mérito dos educandos, mas sim da proposta pedagógica do MST, que tem na sua essência a formação de novos homens e mulheres, sujeitos do seu processo histórico em construção e em constante aprendizado".

terça-feira, 19 de outubro de 2010

ELEIÇÃO E DEMOCRACIA.

Queridos(as)

No endereço:  http://www.youtube.com/watch?v=0j6jgDs7gMQ
Marilena Chauí fala sobre eleição e democracia.

Neste outro video: http://www.youtube.com/watch?v=reuczA7VMc0

vocês encontrarão cenas do ato que reuniu artistas e intelectuais, ontem, dia 18, na cidade do Rio de Janeiro.

Um grande abraço.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

M I S AGITA A CIDADE DE CAMPINAS.

Prezados(as) leitores(as).
O Museu da Imagem e do Som da cidade de Campinas está com uma programação esplêndida.
Acompanhem a agenda.

Local: MIS Campinas. Rua Regente Feijó, 859. Centro. Entrada Gratuita.

Sábado 16/10
16h - Mesa de abertura: "Experiências de Comunicação Popular"
Col. Comunicadores Populares (Cps), Col. de Vídeo Popular (São Paulo), Cia Estudo de Cena (São Paulo), Passa Palavra (São Paulo), Nossa Tela (São Paulo)
sessão 01 - 19h30
"Radix" » Músicos, poetas, videomakers e coletivos de tribos urbanas mostram suas várias particularidades e semelhanças na ação do querer-mudar.
"Periferia Luta" » Denúncia dos abusos promovidos por grandes empresas e pelo Estado nas quebradas da periferia de São Paulo.
"A gente faz TV pensando POR você" » Contra-propaganda que sugere quem de fato tem o controle dos controles remotos.
"Fulero Circo - O Mistério do Novo" » Uma trupe de desempregados e trabalhadores ocasionais viajam pelo país apresentando seu espetáculo “O mistério do novo”, uma investigação sobre os dias de hoje.

Domingo 17/10

16h - DEBATE: "mulheres unidas na luta e na vida"
Kelli Maforte (Dir. MST), Soraia Aparecida da Silva (Col. Mulheres "Luiza Mahim", MST Cps), Profª Maria Orlando Pinassi (Unesp Araraquara)

sessão 02 - 19h30

"Prestes 23+10" » A história de Severino e Roberta na ocupação Prestes Maia: a luta pela moradia e pela manutenção de sua biblioteca de livros retirados do lixo.

"Existe política além do voto" » Relato das opiniões de trabalhador@s sobre o processo eleitoral brasileiro.

"Estudo de cena: a república" » Constituição da república no país de Jericó. Livre adaptação do texto “O 18 brumário de Luis Bonaparte” escrito por Karl Marx em 1852.

"20/11 - Dia da Consciência Negra" » Dia da Consciência Negra em Campinas: ato pela inclusão racial, contra o racismo, a intolerância religiosa e o genocídio dos jovens negros.

Segunda 18/10

sessão 03 19h30

"Cruzando o Deserto Verde" » Integrantes do movimento Alerta Contra o Deserto Verde apresentam os impactos socioambientais provocados pela monocultura do eucalipto.

"O mendigo" » Os dramas de um mendigo e seu violão velho ou uma surpreendente e reveladora realidade?

"Parada 2008" » Um olhar sobre a luta contra os preconceitos a partir de um jovem de periferia que está indo para a Parada da Diversidade Sexual de 2008 em Cuiabá.

"Vídeos da Rua" » Dois curtas resultados de oficinas ministradas à militantes de movimentos sociais que lutam por moradia.

Terça 19/10

sessão 04 19h30

"UERJ Ocupada" » Vinte dias de ocupação da reitoria da UERJ (2008) contra o sucateamento da universidade pública.

"Um Passo de Cada Vez: O despertar da cidadania" » Lideranças da Vila Costa e Silva (1º conjunto de casas populares de Campinas) relembram suas lutas.

"Ousar lutar, ousar vencer!" » As lutas dos servidores públicos municipais de Campinas (SP) através de seu sindicato.

"A Identidade da Memória Morta" » Questiona o abandono e a destruição de um rico patrimônio histórico na cidade de Campina Grande (PB).

"25 anos de luta e resistência" » O vídeo aborda os 25 de anos de existência do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, desde 1984, e sua luta e resistência ao lado da classe trabalhadora contra os patrões e governos.

Quarta 20/10

sessão 05 16h

"Camponeses do Araguaia - A Guerrilha vista por dentro" » Camponeses descrevem o massacre da Guerrilha do Araguaia (72-74), palco da resistência armada contra o regime militar.

"A comunidade do Dom Bosco contra o fechamento da escola Dom Orione" » A luta de moradores do bairro Dom Bosco em Juiz de Fora-MG contra o fechamento da escola estadual Dom Orione.

"Fabrica De Mentiras E Fora Yeda - Tudo Junto E Misturado" » Animação em Stop-motion que aborda as atividades de propaganda contra os atos de corrupção do Governo Yeda Crusius na cidade de Porto Alegre.

19h30 - DEBATE: "Quadrinhos e Resistência"

Com os cartunistas Latuff (Rio de Janeiro), Bira (Campinas), DJ e o Coletivo Miséria (Campinas)

Quinta 21/10

16h sessão 06

"Construindo Identidades" » Estudantes do antigo Cursinho do Sindicato (Campinas) em contato com o debate sobre os movimentos sociais.

"Paz com voz" » Intervenção ativista na cidade de Araras compondo o Eventos da Luta Antimanicomial, Combate a Homofobia e à Exploração Sexual da Criança e do Adolescente.

"Segredos de Estado" - Por que os professores temem falar sobre a escola? » Relatos de professores da rede pública estadual de São Paulo que tiveram sua liberdade de expressão violada por conta da chamada “lei da mordaça”.

"Memórias Diretas" » Relato histórico da Campanha das Diretas-Já em Campinas, sob o ponto de vista de alguns personagens que fizeram parte desse episódio.

"Caminho das Águas" » A importância das minas de água para as lavadeiras e para o bairro Dom Bosco, em Juiz de Fora (MG), e o descaso dos órgãos oficiais.

sessão 07 19h30

"Levante sua voz" » Remonta o curta “Ilha das Flores” de Jorge Furtado com a temática do direito à comunicação.

"Qual Centro?" » Discute a “revitalização” do centro de São Paulo a partir dos moradores de uma ocupação num posto de gasolina.

"Uma Terra, Uma Vida" » A luta de famílias sem-terra no Mato-Grosso e a ação de Dom Pedro Casaldáliga na defesa dos direitos humanos.

Sexta 22/10

sessão 08 16h

"Atrás da Porta" » A experiência de arrombar prédios e criar novos espaços de moradia

das famílias sem-teto do RJ e seu questionamento da “revitalização urbana”.

sessão 09 19h30

"Assembleia Do Povo" - O que importa é o que a gente é! » Memórias de militantes da Assembléia do Povo, movimento social campineiro feito por favelados entre 79 e 82.

"Entre terras e céus" » A disputa em torno de terras públicas em uma zona limítrofe urbano-rural de Limeira-SP.

"Mais um..." » O vídeo discute o extermínio concreto e simbólico da juventude negra no estado do ES e o mito da democracia racial.

"Na Costa da Minha Mão" » Histórias, lendas danças e descobertas de um sotaque de bumba-meu-boi que ecoa no município de cururupu: o sotaque de costa de mão.

"Bigorna: caindo na real" » Olhar de um grupo de jovens que estão atrás das grades: perspectivas, sonhos, sociedade e liberdade...

"Flaskô: Trincheira de Resistência" » A resistência dos trabalhadores da fábrica ocupada Flaskô (Sumaré) contra a sua decretação de falência (2010).


Sábado 23/10

15h30 - Dança 1: "44 horas"

Processo criativo que tem como estímulo as relações de trabalho em nossa sociedade: a mecanização dos gestos e a coisificação humana. Com Natalia Fernandes, Tata Gouvea, Ana Paula Correia e Aline Brasil

16h00 - Dança 2: "Our Love"

Uma reflexão poética sobre o espaço urbano e a (in)viabilização das realizações afetivas e consequente reafirmação das solidões. Do Coletivo Intermitente Abismo de Sonhos: Edson Calheiros, Poliana Lima, Natalia Fernandes.

17h - bate papo: "O que é arte revolucionária?"

18h - Feira da Mostra Luta

Nos dias 23 e 24 a partir das 18 horas haverá a Feira da Mostra Luta. Tragam seus filmes, revistas, livros, jornais, fanzines, desenhos, discos e outros trabalhos!

sessão 10 19h30

"Trilharestórias" » A relação entre universidade e sociedade problematizada através do projeto de extensão “Trilharestórias” (Unicamp) e sua relação com o MST.

"Espeta-cu-lar" » Curta-metragem ficcional que faz uma crítica à manipulação de informação e alienação gerada pela televisão brasileira.

"A Baía pede Socorro" » Denúncia dos grandes empeendimentos privados na Baía de Sepetiba, RJ. Desenvolvimento para quê? Para quem?

"Haiti - Estamos Cansados" » Retrata o Haiti antes e depois do terremoto questionando o caráter repressivo das tropas da ONU.

"No Olho da Rua" » Através de depoimentos fragmentados e do rap, a realidade de um movimento cultural de resistência.

"Sinfonia Animal" » As relações entre animais humanos e não-humanos permeadas pelos ritos, ritmos e texturas da cidade, ambiente de convívio hierárquico e maquínico.

domingo 24/10

16h - DEBATE "Comunicação nos movimentos sociais: tática ou estratégia?"

(MST, MTST, Flaskô, Identidade, Abraço)

18h - Feira da Mostra Luta

Nos dias 23 e 24 a partir das 18 horas haverá a Feira da Mostra Luta. Tragam seus filmes, revistas, livros, jornais, fanzines, desenhos, discos e outros trabalhos!

19h30 - Sarau de encerramento

Aberto para intervenções, músicas, poesias, projeções!

sábado, 28 de agosto de 2010

A TV CULTURA NÃO PODE ACABAR.

Queridos(as) Leitores(as).

Vocês já devem estar sabendo o que a equipe técnica do governo do estado de São Paulo pretende fazer com a nossa TV Cultura. Alegando problemas relativos à pouca audiência, querem nos tirar a única possibilidade, no meio televisivo, de encontrarmos programas que vão além da mesmice, que instigam a nossa inteligência e imaginação. Anexo aqui uma carta da Maria Rita Kehl, publicada no jornal o Estado de S.Paulo. Vamos reagir, botar a boca no trombone.


Um dia a massa há de provar do biscoito fino que fabrico. (Oswald de Andrade)
Que pena. Cada vez que me decido a escrever uma crônica mais leve nesta coluna (não ouso dizer literária. Bem, já disse), o sentimento do mundo me pega não como a doce melancolia do poeta, mas como um paralelepípedo na testa. Não sou capaz de recusar o debate público. Deve ser um sintoma grave, desses que não têm cura depois de certa idade.
Desta vez, a acalorada discussão em torno do projeto de desmanche da TV Cultura me pegou pela cabeça e pelo coração. O economista João Sayad é um homem público respeitável. Conseguiu botar em ordem as finanças da Prefeitura de São Paulo depois da calamitosa gestão Celso Pitta. O ministro Fernando Haddad contou que foi em conversa com ele que surgiu o projeto dos CEUs, oásis de cultura e sociabilidade a quebrar a aridez da vida nos bairros mais pobres da cidade. João Sayad não precisa de prestígio. Já tem.
Por isso não entendo o que o levou a assumir a presidência de um empreendimento que ele não conhece, não parece interessado em conhecer e, acima de tudo, evidentemente não gosta. Até o momento não li nem ouvi falar de nenhuma proposta criativa de Sayad para a TV Cultura. Nenhum novo projeto de programa, de modificação na grade, nenhum novo conceito sobre o papel da única tevê pública de canal aberto do Estado mais rico do Brasil. Tudo o que se sabe é que o economista veio para cortar gastos. Demitir três quartos dos funcionários! Impossível imaginar que a Fundação abrigasse 1.400 empregados inúteis. Tal enxugamento da folha de pagamentos visa a exterminar o quê? A própria programação.
Pontes e viadutos
Tudo leva a crer que Sayad não tinha ideia do que a TV Cultura já fez e ainda faz; em reunião interna demonstrou desconhecer até mesmo um diretor da importância do Fernando Faro, embora não haja sinais de que vá interromper o melhor programa musical do País, que além do mais se tornou um arquivo vivo da memória da música brasileira. Fora isso, terá vindo apenas para encolher os gastos da emissora, com a fúria de um exterminador do futuro? Não haverá argumento que o convença da importância de usar dinheiro público para a experimentação, a invenção e a aposta em programas de qualidade, diferenciados da mesmice das emissoras comerciais?
As primeiras notícias falam em venda dos estúdios e dos equipamentos, demissões em massa e redução da TV Cultura a um pequeno e mesquinho balcão de compra de enlatados. Faz tempo que uma decisão política não me causava tristeza tão grande.
Sendo a economia de verba sua única proposta, gostaria de saber qual o destino de todo o dinheiro que ele haverá, sem dúvida, de poupar com o encolhimento da Cultura. Que se revejam as contas da emissora para eliminar possíveis desperdícios e inoperâncias, vá lá. Mas por que um Estado rico como o nosso precisa ser tão mesquinho nos gastos com sua TV pública?
Uma Secretaria (infelizmente entregue a outro homem que não gosta disso) que pode manter a Osesp para usufruto da elite paulista, que pode construir um luxuoso Teatro da Dança, outro da Ópera, para a mesma elite – não pode manter uma TV experimental para um público, não necessariamente elitista, mas pequeno?
O argumento é que ela é irrelevante em termos de Ibope. Então, tá. Quantos milhões de telespectadores são necessários na planilha do atual gestor para justificar a existência de uma emissora que funciona como laboratório de programas ligados à cultura brasileira e internacional, e que conta com um público muitas vezes mais numeroso do que o que cabe na Sala São Paulo? Não escrevo isto para criticar a Osesp. Que floresçam mil Osesps pelo Estado, pelo País. Uma só Osesp é mais progressista do que todas as pontes e viadutos que um governo possa construir. Faço a comparação para mostrar o absurdo de se desmontar, com argumentos de planilha, uma televisão pública que utiliza sua verba para oferecer biscoito fino à massa.
Princípio operante
Escolho, para terminar, o triste exemplo de um programa que já foi extinto pela atual direção: Manos e Minas. Um corajoso programa de auditório dedicado ao hip hop, levado ao ar ao vivo nos sábados à tarde sob o comando de Rap in Hood, que estreou em CD lá por 2000, cantando: "eu tenho o microfone/ é tudo no meu nome". Ter acesso ao microfone e falar em nome próprio: na plateia, meninos e meninas de pele escura, "bombeta e moleton", não se distinguem dos mesmos meninos e meninas que sobem para dar seu recado no palco. Enfim, alguém teve a ousadia de dar visibilidade à atividade musical dos jovens da periferia de São Paulo, acostumados a só existir na mídia quando algum dentre eles comete um crime.
Manos e Minas não precisa de argumentos de segurança pública para se justificar. Dar espaço ao rap na televisão é importante por si só. Mas a decisão de acabar com o programa nos faz refletir sobre o modo como a elite paulista concebe a inclusão simbólica da periferia na produção cultural da cidade: não concebe. Daí que a pobreza, aqui, seja um problema exclusivo de segurança pública.
A extinção de Manos e Minas lembra, não pelo conteúdo, mas pelo princípio operante, as desastradas políticas de "limpeza" da cracolândia. Quem mais, senão uma TV pública, poderia investir na visibilidade dos artistas da periferia?
Por Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo

sábado, 7 de agosto de 2010

O SILÊNCIO FALOU MAIS ALTO.

Leitores(as) amigos(as).

A ato público realizado hoje, em memória à Camille e às outras vítimas de homofobia no país, conseguiu mobilizar a população que passava pela Rua 13 de Maio. Os tambores sinalizavam o luto em ritmo lento e as pessoas apressadas em fazer suas compras diminuiram seus passos para ler, ouvir, sentir o que estava se passando. As bandeiras dos partidos políticos apresentando seus candidatos, os megafones das lojas anunciando seus produtos, o barulho das buzinas, por um instante, desapareceram e aquele silêncio emocionou a todos. Finalizando o ato, fez-se uma roda em frente à Catedral e nomes de pessoas conhecidas que morreram nas mesmas condições trágicas de Camille foram citados. Na despedida, um abraço fraterno, indicando que as pessoas não perderam a capacidade de se indignar.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

CONVOCATÓRIA DO GRUPO IDENTIDADE.

Prezados(as) amigos(as)
Envio-lhes a convocatória do Grupo Identidade para um ato público a ser realizado no dia 07 de agosto, às 10 horas, aqui em Campinas. Divulguem em suas listas.


A Coordenadoria de Travestis e Transexuais do Identidade - Grupo de Luta pela Diversidade Sexual, vem por intermédio desta convocar a todas e todos, para um ATO PÚBLICO neste próximo sábado, dia 07 de Agosto, que terá início em frente ao Prédio da Fepasa, "Estação Cultura", às 10:00 horas, seguirá pela rua 13 de maio, em um Ato Silencioso, tornando pública nossa dor e revolta pela morte de Camille Gerin, vítima de Homofobia e Sexismo.
Convidamos e sugerimos a todas e a todos que compuserem conosco este ATO que venham vestidos de preto, com guarda-chuva também preto. Aquel@s que quiserem trazer cartazes de indignação por conta da violência que a comunidade LGBT tem sofrido ou algum objeto e foto que lembre a Camille e tantas outras vítimas de homofobia, sintam-se a vontade!!
Atenciosamente,
Suzy Cristel
Coordenadoria de Travestis e Transexuais
Identidade - Grupo de Luta pela Diversidade Sexual

terça-feira, 27 de julho de 2010

MAIS UM CASO DE VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA EM CAMPINAS

Queridos(as) amigos(as)

Infelizmente não sou portadora de boas notícias. Acabei de receber um comunicado do Grupo de Luta pela Diversidade Sexual - IDENTIDADE - aqui em Campinas.
Camille, integrante desse grupo já participou de algumas atividades culturais na Unicamp, uma delas na Faculdade de Educação. No sábado, ela foi encontrada pela polícia exatamente no momento em que  um homem jogava seu corpo em uma valeta próxima à linha do trem no Bairro Bonfim. Camille não morreu, mas está com o corpo totalmente desfigurado e em vias de ter sua morte cerebral decretada no Hospital Mário Gatti. O homem alegou legítima defesa. Advogados vinculados aos movimentos sociais da cidade estão tratando do caso. Nas próximas horas, serão divulgados o horário e o local das manifestações em repúdio a esse triste acontecimento que juntamente com outros casos caracterizam os microfascismos presentes em nossa sociedade.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

GESTALT TERAPIA E TEATRO ESPONTÂNEO.

Queridos(as).
Hoje, quero lhes apresentar o trabalho de dois amigos.
Alina Purvinis é psicóloga, pela Universidade de São Paulo, especialista em Psicologia Clínica pela PUC Campinas com pós formação em Gestalt-Terapia (curso ministrado por Michael Vincent Miller em São Paulo). Foi professora na PUC Campinas de 1975 a junho de 2010. Atua em Campinas como gestalt-terapeuta, onde atende jovens, adultos, casais e famílias. Para conhecer o núcleo, visitem o site:  http://www.nucleogestalt.com.br/.
Moysés Aguiar (já apresentado aqui em meu blog) e sua trupe comunicam aos interessados que, na primeira quarta feira do mes de agosto, iniciarão em Campinas um novo grupo de formação em Teatro Espontâneo. O endereço eletrônico onde estão as bases da proposta do curso é:  http://cursoteatroespontaneo.blogspot.com .
Um grande abraço.

domingo, 20 de junho de 2010

CONTOS DO CHICLETE.

Queridos(as) Leitores(as)
Minha amiga, Teresa Candolo acabou de lançar um livro intitulado "Contos do Chiclete", pela Ed. Adonis.
Adultos e crianças irão adorar a forma inteligente e bem humorada com que a Teresa aborda a ludicidade do chiclete para adentrar no universo infantil da ficção. Algumas histórias se passam na escola, ambiente em que mascar chicletes é transgredir. De um "inocente chiclete", de um "lúdico chiclete", de uma "pequenina diversão"  brotam histórias inusitadas.


Tome cuidado!!! Chicletes à vista!! Aqui, entre estas aparentemente inofensivas folhas de papel, você poderá encontrar goma de mascar espalhando-se entre os seus dedos, grudando nos seus cabelos, enfiando-se naquele selinho tão esperado da garota mais bonita da turma...
São histórias só de chicletes e eles... estão por toda a parte, colorindo o mundo e a boca dos espertos.
Chicletes também contam histórias, afinal, quem vive na boca de quem tanto fala... conhece segredos!...
 
 
Teresa Candolo é aquela pessoa que vive com o Pão-de-ló, um labrador lindo, fofão e polidíssimo. Não se sabe quem o educou pra ser tão fino... A Teresa estudou Letras, na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, onde também ficou um pouquinho mais de tempo estudando Literatura Medieval – aquela dos castelos, cavaleiros e dragões – no Mestrado e Doutorado.
Também foi estudar um pouquinho na Bélgica (Université Catholique de Louvain), pra ver os castelos e bruxas mais de perto. Depois ela formou-se em Radialismo – Locução (SENAC-Campinas), porque queria contar tudo pra todo mundo... mas... nem sempre a deixavam "pôr a boca no trombone"...
Então ela achou que poderia escrever. Afinal, ela já fazia isso desde criança, quando morava em Uchoa (SP), na cidade em que nasceu, onde é feriado no dia do aniversário dela (verdade!!!!).
Lá, ela vivia andando sobre os telhados; aqui, ela vive olhando as estrelas, porque alguém lindo ensinou isso pra ela... E não é bom?
Aqui em Campinas, dá aulas na Escola Estadual Gustavo Marcondes, onde as crianças a entendem mais que todo mundo... Mas, na verdade, ela está ali pra poder brincar um pouco mais com o mundo.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

OS CAVALOS QUE SOMOS

Olá!
Hoje, apresento a vocês mais um dos textos do Albor, comentando o filme "Cavalo de duas pernas", de Samira Makhmalbaf. Não há como ficarmos indiferentes à sua escrita e ao desassossego que a temática do filme provoca em nós.


Os cavalos que somos

Filmes iranianos são inegavelmente uma outridade. A narrativa é diferente, a língua é diferente, os atores, gestual, expressividade, tudo difere da ocientalidade, assistimos um filme “de lá” com um misto de curiosidade, surpresa, aborrecimento, tédio, indignação, expectativa etc. Usualmente o filme nos dá algo diferente do que esperamos, claro, por isso ele é diferente, por isso é uma expressão do outro.
O último filme de Samira Makhmalbaf (A maçã de 1994 é talvez seu mais conhecido filme apresentado por aqui, que com uma ternura incomensurável desvela a tragédia do abandono familiar) escrito pelo pai, o também cineasta Mohsen Makhmalbaf, é Cavalo de duas pernas (Asbe du-pa - 2008), e entra, ou melhor invade, ou melhor ainda avassala o espectador de modo indiscutível. Não se poderá ficar intocado frente à história, à narrativa, aos personagens, às relações. Como em Irreversível de Noé, teremos sempre a imagem de algumas cenas nos acompanhando.
Um menino mimado pelo pai teve as pernas amputadas por uma mina, que também vitimou sua mãe, sua irmã sofre de alguma doença e viaja com o pai para o exterior. Na miserável cidade o cuidador do menino contrata um miserável moleque forte para servir de transporte do inválido, levando-o “de cavalinho” para as aulas e passeios.
É fácil e tentador ver as analogias sociais: país rico oprimindo o país pobre, o filme rodado no Afeganistão depois da invasão russa, depois da invasão estadunidense; pessoa rica oprimindo a pobre; dominação pela miséria ...
E não se poderá dizer que isso não faça parte das leituras possíveis. Como toda obra de arte esta se presta a estas leituras. Mas evidentemente ela vai além.
Porque o aleijão se afeiçoa de algum modo a seu “cavalo”, este, com algum deficiência mental se adéqua às ordens de seu senhor e seja pelo dinheiro que recebe, que aos poucos perde importância, seja pela relação de submissão – único vínculo que vive no filme todo –, é a contraparte relacional da dominação opressiva.
Ninguém dá a mínima para a relação que ambos constroem. Nenhum adulto se interpõe quando os limites entre a autoridade e o sadismo são cruzados, nenhuma outra criança se enoja com a situação do cavalo, ao contrário, reafirmando a máxima que criança não presta de nascença. Querem todos dar uma volta no cavalo, conseguindo uma sela para que este fique mais cavalo ainda, ou dispondo-se a pagar mais por isso caso nos seus pés sejam pregadas as ferraduras para que o som dos passos pareça-se mais aos cascos...
Então não há relação que não seja de indiferença ou de aproveitamento, e todo afeto será vivido de um modo ou de outro, e a pequena mendiga pela qual se apaixona o “cavalo” é ela também usada como produto de uso, submetida ao pagamento do senhorzinho feudal. Não há como não lembrar do título de Fassbinder, O amor é mais frio que a morte (1969).
E as imagens são de uma beleza plástica maravilhosa, como por sinal é comum ocorrer também em outros filmes iranianos, e talvez por isso mesmo elas nos aprisionam dessa forma irrecusável, ainda que dolorosamente incisiva: também a dor é bela, também a opressão é bela, também a submissão é bela, e se o incômodo dessas afirmações é insuportável, moralmente insuportável, pessoalmente insuportável, filosoficamente insuportável, não por isso deixa de ser verdadeiro no filme, e por isso ele escapa a qualquer panfletarismo ou propaganda fácil: ele é insuportável e belo, numa reunião que vai alem do cartesianismo ocidental e do platonismo que cola o belo ao bom e certo. E nisso ele expressa uma vez mais a outridade, mas nós somos também esse outro.
ALBOR VIVES REÑONES



quarta-feira, 19 de maio de 2010

DOS DENTES QUE CAEM E DOS QUE NÃO DEVERIAM CAIR.

Olá queridos e queridas
Albor Vives Reñones, do grupo Violar, nos brinda com um artigo sobre o filme Dente Canino. Numa época em que se fala tanto em "desestruturação familiar", Albor nos apresenta algumas percepções sobre a família e as violências que atravessam a vida de todos nós.
Comentem.

Dos dentes que caem e dos que não deveriam cair
Em meados da década de oitenta os cineclubes (sim, houve um tempo no que as pessoas se reuniam para ver filmes decentes coletivamente, em pequenos cinemas, meio improvisados e mambembes) apresentaram um filme japonês que causou certa comoção e debate na época. A balada de Narayama (Narayama Bushi-Ko, Dir.: Shohei Imamura) ganhara a Palma em Cannes em 83, e fizera já uma carreira premiada. A história da anciã de 69 anos, que ao aproximar-se de seu 70º aniversário prepara sua ida ao monte Narayama para lá, como rezava a tradição, ser deixada pelo filho mais velho para morrer, trazia temas delicados e intensos à tona. A situação de fim de século XIX japonês não diferia muito de algumas regiões miseráveis atuais e, talvez por isso mesmo a disponibilidade de velhinha em seguir a tradição, tenazmente, indicava um valor maior, de sacrifício pela coletividade familiar, que sofreria privações com uma boca a mais.
No ano passado Cannes premiou (em outra categoria, a Um certo olhar) um outro filme que traz à tona uma questão similar: como proteger a família?
Kynodontas (foi apresentado na 33ª mostra internacional de cinema em SP com o título de Dente Canino) do grego Yorgos Lanthimos traz a família recluída em uma casa, cujos únicos contatos com o mundo exterior são as idas do pai ao trabalho, da prostituta que vem vendada para satisfazer as necessidades sexuais do filho, e dos aviões que cruzam o céu e são tratados como aviões de brinquedo, prestes a cair a qualquer instante.

A situação é tão absurdamente impossível que rapidamente entramos no universo alegórico. Tudo ali indica várias possibilidades de entendimento. A mãe define os sentidos das palavras a seu bel prazer, zumbis são flores amarelas e xoxota uma lâmpada grande (e teclado por sua vez xoxota...), assim como os sentidos relacionais são definidos pelos pais conforme acreditam que aquilo protegerá “as crianças” do mundo exterior.

As atividades familiares são todas estruturadas visando alcançar mais pontos, que definem privilégios. Os exercícios, as tarefas, os conhecimentos, os prazeres, são totalmente definidos, limitados e autorizados pelo casal. A família acima de tudo. Filmes são parte da educação indireta (e cenas hilárias da filha mais velha “lutando” e repetindo os diálogos de Rocky – o lutador, e as dancinhas de Flashdance quebram o ritmo claustrofóbico), mas não aqueles que possam atentar contra os valores da família.
Que diferença de famílias! E de estratégias! Poderíamos pensar.
Mas não tão diferentes assim. O canino nunca cai, sabemos todos, inclusive nós que não somos dentistas. Para ter seu pedido aceito de ir a Narayama a velhinha bate com os dentes numa pedra (reza a lenda que a atriz fez concretamente a batida, perdendo os dentes frontais). Para poder sair da casa-refúgio a filha mais velha teria de esperar que seu canino caísse, outra das regras impostas no funcionamento da casa. Cansada de esperar resolve “acelerar” o processo, como a velhinha, abrindo a via de escape na porrada. Mesmo que contra si.
Nem tão diferentes tampouco no indicar as dinâmicas macro sociais em pequenos exemplos holográficos dos microcosmos. Ali, na microfísica se mostram os mesmo poderes, dinâmicas e relações. E as intenções de proteção, nossas e dos outros, com a inevitável tinta de dominação que essa proteção pede, se explicitam com a clareza dolorida de um dente que não cai, para proteger-nos do passo inseguro no “fora”.
E como sempre é mais fácil olhar os dentes do outro que os próprios, aproveitamos este espelho, que reflete nossas bocas, sorrindo, alegres, fechadas, bravas, indignadas, surpresas, ao ver uma situação aberrante sinalizar nosso cotidiano canino, que também não cai...
Os que desejarem ver o filme, que não sei se terá lançamento no Brasil, podem usar da generosidade da rede torrent pelo link (com legenda):

quinta-feira, 13 de maio de 2010

13 DE MAIO: COMEMORAR O QUÊ?

Olá queridos(as)  leitores(as).
Infelizmente, não tenho conseguido atualizar o meu blog com frequência devido ao acumulo de trabalho, mas hoje não poderia deixar de trazer a vocês um artigo escrito pela Jaqueline Lima Santos, uma jovem que atua no Movimento Negro Unificado. O seu texto nos faz refletir sobre o dia 13 de maio.
Um grande abraço a todos(as).

13 DE MAIO: COMEMORAR O QUÊ?

O Brasil, ultimo país a abolir a escravidão nas Américas, aquele que explorou aproximadamente 4 dos 10 milhões de africanas e africanos que foram trazidos para exercer trabalho escravo desse lado do Atlântico, possui hoje o maior número de população negra fora do continente africano.

Estamos aqui para falar de negras e negros como sujeitos políticos no período da escravidão. Todo mundo sabe que no Brasil existiu mais de três séculos de exploração, violência e desumanização das(os) não brancas(os) pela colonização européia, mas o que a história não conta é que as(os) negras(os) também eram agentes frente às formas de opressão, que não eram “coisa”, e sim “ser” diante do sistema escravocrata.

Antes da chegada do 13 de maio, a população negra organizou diferentes movimentos de resistência, através da formação dos quilombos, das irmandades, dos trabalhos urbanos, rebeliões nas senzalas, além das diversas revoltas: Malês, Balaiada, Sabinada, entre outras, e foram protagonistas da primeira tentativa de independência no país, através da formação do Quilombo de Palmares, este que sobreviveu mais de 100 anos como um Estado organizado e independente, derrotou por diversas vezes o exército colonial, até que, depois de diversas tentativas, foi invadido e vencido covardemente em 1695 pelo exército de Domingos Jorge Velho.

Vale lembrar que as mulheres negras tiveram papel fundamental nesses movimentos de resistência negra, exercendo papel de líderes, estrategistas, guerreiras, informantes e organizaram as alternativas criadas pelas(os) negras(os) frente ao Estado colonial.

A população negra dinamizou a história do Brasil, não aceitando a condição de escravizada, estabeleceu contra-movimentos e foi conquistando aos poucos sua liberdade, seja através de fugas, ou através da compra de cartas de alforria, e no 13 de maio de 1888, quando a Princesa Isabel assina a leia Áurea, apenas 5% da população negra ainda exercia trabalho escravo. No entanto, é dado o bônus pelo fim da escravidão a princesa boazinha que “libertou os negros”, e nada se fala da luta das(os) negras(os) pela sua liberdade. A lei áurea foi uma estratégia para desmobilizar a população negra que, a exemplo do Haiti, em algum momento, através das explosões constantes de rebeliões, tomaria o Estado brasileiro. Além disso, o processo de industrialização no país exigia a passagem do trabalho escravo ao trabalho livre, só assim o empregador poderia comprar a força de trabalho de acordo com as suas necessidades, e quando contratada, custaria os meios de subsistência do trabalhador.

O que aconteceu a partir de 14 de maio de 1888? A população negra não foi indenizada pelos três séculos e meio de escravidão, as senzalas sobem para os morros, onde hoje se localizam as favelas. A partir de então a imigração européia é incentivada para o Brasil, a fim de ocupar os postos de trabalho assalariado e embranquecer o país, havia até quem acreditasse que em 100 anos não haveriam mais negros no Brasil, e olha nós aqui. Mesmo reconhecendo que estes novos imigrantes foram explorados na venda da sua força de trabalho, eles estavam em condições favoráveis em relação à população negra, através das políticas de doação de terras e moradias que os eram direcionadas, além de serem priorizadas(os) nos postos de trabalho.

Por isso hoje, mesmo a lei áurea tendo marcado “oficialmente” a passagem da(o) negra(o) da condição de escrava(o) a cidadã(o), o que não garantiu nenhum direito da cidadania brasileira a esta parcela da população, que até os dias de hoje encontra-se em condições extremamente desiguais em relação a população branca, o movimento negro no Brasil não comemora o dia 13 de maio, mas tornou essa data o DIA NACIONAL DE DENÚNCIA CONTRA O RACISMO, e comemora o dia 20 DE NOVEMBRO COMO DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA, dia em que morreu Zumbi dos Palmares, mais um dia de luta para a luta de todos os dias.

Hoje, 122 anos após a abolição inacabada, não temos o que comemorar. Queremos nossas carteiras de trabalho assinadas, queremos reparações ações afirmativas nas universidades, queremos punições contra os crimes de racismo, e colocamos o Estado brasileiro no banco dos réus.

Jaqueline Lima Santos
Mestranda em Antropologia pelo Departamento de Ciências Sociais da UNESP - Marília
Pesquisadora do NUPE - Núcleo Negro da UNESP para Pesquisa e Extensão
MNU - SP/ FH2I

sexta-feira, 16 de abril de 2010

TOLERÂNCIA ZERO EM CAMPINAS

Queridos(as) Leitores(as).
A palavra "tolerar", em nossa cultura, tem sentidos ambíguos e por isso acredito que nos atrapalhamos ao falarmos de "tolerância". Segundo o Dicionário do Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2a. ed.), o tolerante é aquele que desculpa,  é indulgente, admite e respeita opiniões contrárias à sua, ou seja, modos de pensar, de agir e de sentir que diferem dos de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos. Mas, um outro sentido, nos faz pensar. A tolerância é a tendência a admitir a diferença máxima entre uma valor especificado e o obtido; margem especificada como admissível para o erro em uma medida ou para discrepância em relação a um padrão.  
O texto do prof. Geraldo é muito esclarecedor. Nele conseguimos entender o padrão pelo qual encontra-se a medida específica para o exercício da (in) tolerância.


Opinião  (Publicado  em 15/04/2010, no Jornal Correio Popular)
Os moradores de rua

GERALDO F. MENDES

A finalidade precípua da Guarda Municipal é proteger o patrimônio público municipal. Na semana passada, os fardados municipais vestiram as armaduras dos soldados romanos e detiveram sete invasores que chegavam na rodoviária vindos de outra freguesia. Agora a GM campineira também defende o território campinense impedindo o direito fundamental do cidadão brasileiro de ir e vir em qualquer parte do território nacional.
Os sete afrodescendentes, excluídos de nossa sociedade, moradores de rua, meios-cidadãos brasileiros, foram conduzidos à delegacia por meios coercitivos, identificados, cadastrados e, por não ter sido possível imputar-lhes qualquer crime, foram tangidos de volta, conduzidos em veículos oficiais da Prefeitura de Campinas.
Ironicamente, o governo municipal inaugurou recentemente o Centro Campineiro da Memória Afro-brasileira, que deveria reverenciar a raça negra pelo legado cultural e pelo ativo econômico conseguido pelos donos das chibatas até 1888. Há 122 anos a Princesa Isabel e alguns abolicionistas burgueses abandonaram os descendentes de escravos à sua própria sorte, sem que nenhuma política pública fosse feita no início para incluir os negros brasileiros ao mercado de trabalho e nenhum tipo de indenização foi paga para compensar os ex-escravos pelos anos de trabalhos forçados nas lavouras de café e engenhos de cana de açúcar. No Brasil alguns filhos da Mãe África, se juntam aos outros excluídos e habitam submoradias em locais de alto risco, favelas, viadutos, praças públicas, encostas deslizantes e lixões desativados. Os resultados do descaso dos governantes são conhecidos por todos pelas cenas de horror exibidas diariamente na mídia.
É possível que os sete visitantes detidos na rodoviária tenham vindo a Campinas para tentar entender por que há 50 anos o governo municipal mandou demolir um belo teatro no Centro da cidade e até agora não consegue sequer reformar as casas de espetáculos existentes sob sua responsabilidade. Outra razão possível da vinda dos visitantes a Campinas é querer saber porque o loteamento Cidade Satélite Íris, que está localizado na região do Campo Grande criado em 1936, tem ruas esburacadas, transporte público precário e um abandono completo por todos os governantes que passaram pela Prefeitura.
Outra razão que pode ter despertado a curiosidade dos sete visitantes tenha sido entender por que os núcleos habitacionais de Campinas não têm suas vielas e ruelas sequer denominadas por leis municipais e excluem 30 mil moradores de terem endereços oficiais e CEP, fazendo com que um direito tão básico de cidadania não possa ser desfrutado por um contingente tão expressivo de campineiros.
É possível que os sete homens e mulheres chegaram a Campinas para visitar pontos turísticos da maior cidade do Interior paulista e, caso não tivessem sido detidos, iriam se deparar com a Caravela da Lagoa do Taquaral, totalmente desprezada porque o poder público a abandonou e até agora na conseguiu devolver a nau às águas poluídas do cartão postal do município.
Em contrapartida, os condomínios, construídos no melhor estilo das cidades medievais, na região entre Sousas e a estrada de Mogi Mirim, recebem largas avenidas asfaltadas, devidamente denominadas, e fartos investimentos para edificar fortalezas que cercam e impedem o livre acesso do cidadão comum a vias e logradouros públicos que são apropriados pelos privilegiados moradores das pequenas urbes. A cidade também recebe de braços abertos empresários, principalmente do setor imobiliário, e acolhe com orgulho os abastados estudantes das universidades campineiras.
Lamentavelmente, o programa de Tolerância Zero, implantado pela Prefeitura Municipal de Campinas, no lugar de proteger o cidadão, poderá se transformar em ações de intolerância racial e social. O poder público deveria ser mais cauteloso nas ações e abordagens e o Ministério Público, por sua vez, deveria acompanhar e auditar as diretrizes que conduzem a Guarda Municipal nas ações diárias, cujo objetivo principal deveria ser o de proteger o cidadão e não o de coibir aqueles que residem ou que estejam em trânsito na cidade.

Geraldo Ferreira Mendes é professor aposentado

sábado, 3 de abril de 2010

MOÇÃO DE APOIO À GREVE DOS PROFESSORES

Manifestação de Apoio da Congregação da FACULDADE DE EDUCAÇÃO - UNICAMP



A Congregação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, em sua ducentésima quadragésima reunião ordinária, ocorrida em 31 de março de 2010, aprovou, por unanimidade, manifestação de apoio em relação às justas reivindicações que orientam a luta contínua dos professores da Rede Oficial de Ensino do Estado de São Paulo por uma educação pública, gratuita e de qualidade. No mesmo sentido, recomenda às instâncias governamentais competentes a imediata abertura de negociação com os professores, condição necessária, ainda que não suficiente, para o exercício de diálogo efetivamente democrático entre as partes e para o encaminhamento negociado, inclusivo e atualizado de propostas para o enfrentamento dos sérios problemas que afligem a educação escolar pública no Estado de São Paulo.

Campinas, 31 de março de 2010

sábado, 27 de março de 2010

GREVE DOS PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE ENSINO EM SÃO PAULO

Queridos(as) leitores(as)
Alguns professores da rede estadual de ensino e pesquisadores do grupo Violar escreveram um texto sobre a greve dos professores do Estado de S.Paulo. Solicitei a eles permissão para publicar a mensagem em meu blog. Existe também um video que vocês poderão assistir, caso se interessem em buscar mais informações sobre essa greve; trata-se do GREVE DOS PROFESSORES - 2010 - RESPOSTA AO GOVERNADOR: http://www.youtube.com/watch?v=hM_wQM4wNmw


Sim, a greve dos professores do Estado de São Paulo continua! Continua, ainda que o governador tente ignorá-la e ainda que a mídia televisiva e impressa seja omissa em retratar os fatos. Nas duas últimas sextas-feiras a Avenida Paulista foi tomada por professores e estudantes que, em grande marcha, contestaram as mentiras difundidas por José Serra referente à educação de São Paulo.
A Secretaria de Educação afirma que menos de 1% está em greve, mas não é isso que foi visto, Professores de várias cidades do estado demonstraram a força do movimento. O clima era de força, era de luta! E se não podemos contar com alguns meios midiáticos para divulgar essa força, temos outros meios, como a internet, onde também é possível observar a mobilização dos professores.
Enfim, não é possível calar o clamor do povo que lotou a Paulista com seus cartazes, com suas faixas e com a vontade (e necessidade) de serem ouvidos!
Vamos continuar lutando!
Alguns dos motivos...
Resumidamente, tentaremos expor alguns dos motivos que levam a nós professores a não nos calarmos frente às mentiras divulgadas e omitidas pelo governo à população:
1- A divisão em categorias “O”, “L”, “F”, etc, implementada esse ano pelo governo segrega a categoria dos professores. Para que essa diferenciação? Se somos todos professores, não deveríamos ter os mesmos direitos?
2- Professores da categoria “O” terão que ficar 200 dias afastados das salas de aula após término de um contrato. Por exemplo, esse professor, ao substituir uma licença, terá que ficar 200 dias sem trabalhar após o término da mesma. O que ele fará nesse período? Sobre isso, pontuo a realidade de várias escolas, nas quais faltam professores para dar aula e os alunos passam o tempo em que deveriam estar aprendendo em “aulas vagas”;
3- Materiais de péssima qualidade, com erros grosseiros e linguagem não adequada à faixa etária dos alunos, materiais esses que os professores são obrigados a seguir como uma cartilha, não importando as peculiaridades dos alunos atendidos;
4- Índices do IDESP camuflados por meias verdades, como por exemplo, pela baixa taxa de repetência, que na verdade é devido à progressão continuada, e não exatamente à boa qualidade da educação;
5- Salas superlotadas, e sem o prometido “2º professor” na primeira série do Ensino Fundamental I.;
6 – Provas para os ACT’s e a “Progressão por Mérito” (que atingirá no máximo 20% dos professores, como isso será controlado?), nas quais o verdadeiro intuito é passar a idéia de que os professores são os únicos culpados pelo fracasso escolar. Questionamos: Porque só a categoria dos professores tem que passar por humilhantes provinhas?
7- Por fim, as propagandas do governo são enganosas, falam de falsos valores salariais, omitem a miséria do auxílio alimentação e vale-transporte, enfim, omitem a desvalorização salarial da categoria, que não recebe nem ao menos o mínimo reajuste (que seria baseado nos índices de inflação).


sábado, 6 de março de 2010

AMEAÇAS CONTRA LÍDERES DE MOVIMENTOS SOCIAIS


Queridos(as) leitores(as)

Hoje venho pedir a atenção de vocês para um assunto muito grave e diante do qual não podemos nos calar.
Pessoas vinculadas ao Tribunal Popular de São Paulo vêm recebendo ameaças de morte devido a denúncias que registram junto ao Ministério Público. Para quem não sabe, o Tribunal Popular é constituído por profissionais e militantes de várias áreas que além de denunciarem injustiças cometidas contra cidadãos trabalhadores, pobres, oferecem recursos jurídicos para a investigação de mortes por homicídio nas famílias que sofrem perdas e não podem arcar com os custos dessa investigação. Considero que esse tipo de ameaça atinge a todos nós, pois o trabalho do TP tem por objetivo oferecer segurança não somente a todos aqueles que, por falta de recursos financeiros, ficam desamparados ante a Lei como também aprofundar a análise de fatos divulgados pelos meios de comunicação e que nem sempre correspondem aos reais acontecimentos.
Nossa frágil democracia ainda precisa da ajuda de todos nós. O trabalho desenvolvido pelos Tribunais Populares representa uma importante estratégia de defesa de direitos. Existem outras formas de luta, mas a do TP tem sua importância porque “coloca o dedo direto na ferida”. Por isso, endosso minha solidariedade às lideranças dos movimentos sociais, ressaltando a coragem dos(as) companheiros(as) que se expõem em defesa dos direitos humanos e defendem a expansão dos benefícios sociais, políticos, culturais para uma parcela cada vez maior da população brasileira.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O NOME DO PAI

Olá queridos(as) leitores(as)
Hoje vou lhes apresentar uma história intrigante contada pelo meu amigo Mariguela.



Com certa freqüência sou interrogado: "você é parente do Carlos Marighella?" Esta pergunta sempre me perseguiu desde que passei horas numa sala do quartel militar em Campinas onde em cumprimento ao dever cívico, realizei alistamento. "O que você é do Carlos Marighella?", perguntava-me o oficial com uma voz cada vez mais intimidadora. "Não sei quem é Carlos Marighella", respondia com um pavor cada vez maior. Tentava em vão lembrar algum parente com esse nome. De súbito, veio a lembrança de uma cena em 1969: a televisão anunciava a morte do guerrilheiro Carlos Marighella, o inimigo número um da ditadura militar. A imagem de um corpo baleado dentro de um fusca e o nome Marighella pronunciado produziu rápida associação levando minha mãe ao desmaio. Naquele mesmo dia, meu pai viajava num fusca branco comprando plantações de goiabas e tomates nos sítios da região noroeste do Estado de São Paulo.
Nada disse dessa lembrança ao oficial que me interrogava. Num relance, vi o nome Carlos Marighella escrito numa folha sobre a mesa do oficial. Arrisquei timidamente e quase sem voz, a seguinte observação: o meu Mariguela é com gu e não com gh. No pé da letra, consegui ser liberado e ao mesmo tempo engajado numa busca arqueológica do nome do pai.
No livro Batismo de Sangue - Guerrilha e Morte de Carlos Marighella, publicado pela Rocco, Frei Betto narrou a trajetória do líder revolucionário traçando os contornos do regime militar que assumiu o controle do Estado durante a ditadura. Lançado em 1982, o livro ganhou o Prêmio Jabuti na categoria de melhor livro de memórias. Recentemente foi transformado em roteiro de filme. Com essa leitura, meu interesse cresceu em intensidade e impulsionado pela curiosidade infantil, construí minha árvore genealógica para verificar se havia algum grau de parentesco entre meu bisavô paterno e o pai do Carlos.
Descobri que ambos vieram de Ferrara, norte da Itália, no mesmo navio. Augusto Marighella desembarcou na Bahia e apaixonou-se por Maria Rita do Nascimento, negra haussá, vinda da África. Augusto era mecânico e consta que introduziu o martelo de borracha nos serviços de recuperação de lataria. Teve oito com sua africana, Carlos era primogênito. Meu bisavô, Henrique, seguiu viagem pelo litoral e desembarcou no porto de Santos. Na recepção aos imigrantes, seu sobrenome foi aportuguesado em novo registro civil. Seguiu para as fazendas de café na região de Itápolis, interior de São Paulo. Por lá se casou e nasceram doze filhos, meu avô, Ângelo era primogênito.
Ângelo foi alfabetizado por seu pai e assumiu a função de "ensinador das letras", expressão que usava para seu oficio. Alfabetizou todos os seus irmãos e, depois de casado com Apparecida Anjolino, começou a ensinar as letras para os demais colonos na fazenda onde morava. Depois da jornada de trabalho nos campos de café e algodão, os jovens da fazenda se dirigiam à casa do meu avô para aprender a ler e escrever numa grande mesa à luz de lamparinas de óleo. Os que não podiam pagar em dinheiro pagavam com ovos, galinha, porco, etc. Sempre que narrava essa história, meu avô concluía: na família de italiano, para não ser escravo de ninguém, é preciso saber ler e escrever. Ângelo e Apparecida tiveram quatro filhos. Meu pai, era primogênito.
Quando a crise no campo tornou-se uma realidade e a situação financeira ficou insustentável para criar seus filhos, Ângelo mudou-se com a família para a cidade com o propósito de ganhar a vida. Lá trabalhou como mecânico, marceneiro, ferreiro e servente de pedreiro. Aos poucos conseguiu montar uma oficina e foi o primeiro fabricante de charretes e carrocerias de caminhão na cidade. Meu avô era um artesão que conseguia transformar ferro e madeira em diferentes peças para uso doméstico e comercial. Quando seus filhos foram constituir suas próprias famílias, ele fechou a oficina e passou a transportar, com a charrete puxada pelo Baio, os passageiros que embarcavam e desembarcavam na estação de trem que hoje é só ruína de um tempo.


Márcio Mariguela é psicanalista e professor de história da filosofia contemporânea na Unimep.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

FORUM SOCIAL URBANO 2010.

Olá, vamos participar deste Fórum? Acabei de receber o convite.


Movimentos sociais e organizações da habitantes convidam para o Fórum Social Urbano 2010 (Rio de Janeiro, Brasil 22 - 26 março de 2010) Nos bairros e no mundo, em luta pelo direito à cidade, pela democracia e justiça urbanas.
Em março de 2010, a cidade do Rio de Janeiro irá receber o V Fórum Urbano Mundial. Organizado a cada dois anos pela Agência Habitat da Organização das Nações Unidas (ONU), a expectativa é que este ano o encontro reúna cerca de 50 mil pessoas de todo o mundo.
As edições anteriores do FUM foram dominadas pelas delegações oficiais, enquadradas pela retórica e agenda das organizações multilaterais – Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Aliança de Cidades, entre outras. Palavras, palavras, palavras... mas também um reiterado esforço de impor às cidades de todo mundo, em particular dos países periféricos, o modelo da cidade-empresa competitiva, dos grandes projetos de impacto, que aprofundam as desigualdades e os processos de aburguesamento. A retórica do alívio da pobreza não consegue esconder os fracassos de uma política que submete nossas cidades à lógica do mercado, tanto mais que se desconhecem, ou se silenciam, os mecanismos e processos que produzem e reproduzem cidades desiguais, social e ambientalmente injustas.
Em suas várias edições o FUM também tem sido incapaz de abrir espaço àqueles e àquelas que, em todas as cidades do mundo, resistem à lógica implacável da cidade-empresa e da cidade-mercadoria, que lutam por construir alternativas aos modelos adotados em vários governos, e difundidos pela “ajuda” internacional nem sempre desinteressada e por consultores, assim como por conferências e congressos mundiais onde a miséria urbana de milhões se transforma em frias estatísticas e promessas nunca cumpridas.
Por estas razões, os movimentos sociais e organizações do Rio de Janeiro vimos convidar todos os movimentos sociais e organizações da sociedade civil do mundo a construírem conosco um espaço de ampla e livre manifestação e debate no Fórum Social Urbano. Será um espaço e um tempo para nos conhecermos e reconhecermos, para trocarmos experiências e construirmos coletivamente a perspectiva de uma outra cidade: democrática, igualitária, comprometida com a justiça social e ambiental.
OBJETIVOS
O objetivo do Fórum Social Urbano é o de possibilitar o diálogo, a troca de experiências, a expressão da diversidade e o fortalecimento das articulações de movimentos sociais e organizações do mundo inteiro.
O Fórum Social Urbano se coloca também como uma oportunidade única para desvendar a verdadeira cidade que procuram esconder atrás dos muros e tapumes, assim como atrás dos discursos sobre cidades globais com os quais muitos governos justificam investimentos bilionários em grandes eventos de marketing urbano. Neste sentido, os movimentos e organizações anfitriãs pretendem oferecer aos participantes internacionais e nacionais a possibilidade de conhecer um Rio de Janeiro que não está nos cartões postais nem na propaganda oficial, um Rio de Janeiro injusto e feio, mas que é também rico de resistência e criatividade popular.
ATIVIDADES
De 23 a 26 de março de 2010, em paralelo às atividades do Fórum Urbano Mundial estarão se realizando as atividades do Fórum Social Urbano.
As atividades se organizarão como segue:
- painéis e debates em torno a 4 Eixos: Violências Urbanas e Criminalização da Pobreza; Megaeventos e a Globalização das Cidades; Justiça Ambiental na Cidade; Grandes Projetos Urbanos, Áreas Áreas Centrais e Portuárias;
- mesas e debates propostos por movimentos e organizações do Brasil e de outros países;
- exposições e projeções de vídeos;
- manifestações culturais;
- outras que forem propostas.
OS EIXOS
-Criminalização da Pobreza e Violências Urbanas Militarização das periferias e bairros populares.
Criminalização da pobreza e dos imigrantes.
- Violências urbanas, em suas múltiplas manifestações.
Racismo, machismo e homofobia na cidade. A violência contra as mulheres. Repressão e criminalização dos militantes populares e dos direitos humanos.
- Megaeventos e a Globalização das Cidades.
Copa do Mundo, Olimpíadas, exposições internacionais. Impactos de megaeventos internacionais nas cidades, a partir das experiências internacionais e do Rio de Janeiro. Quais são os “legados” e quem são seus beneficiários?
- Justiça Ambiental na Cidade.
Meio ambiente, desigual e organização do espaço urbano. Saneamento, saúde e meio ambiente. Racismo ambiental. Conflitos ambientais e as lutas de resistência. Mudanças climáticas e as cidades.
- Grandes Projetos Urbanos, Áreas Centrais e Portuárias.
“Revitalização” dos centros urbanos e áreas portuárias. Mobilidade. Processos de aburguesamento. Expulsão das populações tradicionais através da violência e através do “mercado”. Grande capital, parcerias público-privadas e a especulação fundiária. Globalização e capitalismo nas cidades.
OUTRAS ATIVIDADES
Para além dos eixos propostos, convidamos as organizações e movimentos do Rio de Janeiro, do Brasil e do Mundo a contribuírem com propostas de atividades autogestionadas.
Estas poderão ter caráter de debates, plenárias, fóruns de articulação, exposições, projeções, banquinhas ou atividades culturais. A data limite para o envio de propostas é 7 de março de 2010. A incrição de atividades deve ser feita através do preenchimento do formulário.
FÓRUM SOCIAL URBANO - PROPOSTA DE ATIVIDADE.
A Comissão de Programação buscará contemplar todas as propostas recebidas, dentro dos limites de espaço e tempo disponíveis.
Também serão organizadas visitas e tours guiados para permitir o contato direto com realidades urbanas pouco conhecidas, como manifestações culturais da cidade e experiências de luta – movimentos comunitários, ocupações, etc.
O LOCAL
As atividades do “Fórum Social Urbano” ocorrerão no espaço do Centro Cultural da Ação da Cidadania Contra a Fome, à rua Avenida Barão de Tefé 75, no bairro da Saúde (VEJA O MAPA). Trata-se de armazém portuário edificado em 1871, restaurado em 2002, que hoje acolhe eventos políticos, artísticos e culturais (VEJA FOTOS). O espaço tem 14.000 m2, oferecendo amplas condições para a realização de várias atividades simultâneas, colocação de banquinhas, etc.
O local do Fórum Social Urbano encontra-se a 300 metros do local onde transcorrerá o FUM, facilitando a circulação de todos os participantes entre os dois eventos. As visitas guiadas partirão sempre do mesmo local, conforme será oportunamente divulgado.

INFORMAÇÕES:
Fórum Urbano Social: Democracia e Justiça na Cidade
Inscrições de atividades: programacaofsu@gmail.com












sábado, 16 de janeiro de 2010

NOTÍCIAS DO HAITI.

Queridos leitores, queridas leitoras, não deixem de acessar o site abaixo indicado. Lá vocês encontrarão relatos de pesquisadores que atuam no Haiti e nos trazem uma outra visão dos acontecimentos que afetam aquele país, contrastando, em muitos aspectos, dos noticiários divulgados pela mídia nacional e internacional. Anexei aqui o texto de Otávio Calegari Jorge, mas existem outros também muito esclarecedores.
Um grande abraço.

Notícias do Haiti
http://lacitadelle.wordpress.com/2010/01/ 

Haiti: estamos abandonados
13 13UTC Janeiro 13UTC 2010, 23:39
Arquivado em: HAITI

A noite de ontem foi a coisa mais extraordinária de minha vida. Deitado do lado de fora da casa onde estamos hospedados, ao som das cantorias religiosas que tomaram lugar nas ruas ao redor e banhado por um estrelado e maravilhoso céu caribenho, imagens iam e vinham. No entanto, não escrevo este pequeno texto para alimentar a avidez sádica de um mundo já farto de imagens de sofrimento.
O que presenciamos ontem no Haiti foi muito mais do que um forte terremoto. Foi a destruição do centro de um país sempre renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia.
O que o Brasil e a ONU fizeram em seis anos de ocupação no Haiti? As casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo. Alguns desses problemas foram resolvidos com a presença de milhares de militares de todo mundo?
A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país.
Hoje, dia 13 de janeiro, o povo haitiano está se perguntando mais do que nunca: onde está a Minustah quando precisamos dela?
Posso responder a esta pergunta: a Minustah está removendo os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam ricos hóspedes estrangeiros.
Longe de mim ser contra qualquer medida nesse sentido, mesmo porque, por sermos estrangeiros e brancos, também poderíamos necessitar de qualquer apoio que pudesse vir da Minustah.
A realidade, no entanto, já nos mostra o desfecho dessa tragédia – o povo haitiano será o último a ser atendido, e se possível. O que vimos pela cidade hoje e o que ouvimos dos haitianos é: estamos abandonados.
A polícia haitiana, frágil e pequena, já está cumprindo muito bem seu papel – resguardar supermercados destruídos de uma população pobre e faminta. Como de praxe, colocando a propriedade na frente da humanidade.
Me incomoda a ânsia por tragédias da mídia brasileira e internacional. Acho louvável a postura de nossa fotógrafa de não sair às ruas de Porto Príncipe para fotografar coisas destruídas e pessoas mortas. Acredito que nenhum de nós gostaria de compartilhar, um pouco que seja, o que passamos ontem.
Infelizmente precisamos de mais uma calamidade para notarmos a existência do Haiti. Para nós, que estamos aqui, a ligação com esse povo e esse país será agora ainda mais difícil de ser quebrada.
Espero que todos os que estão acompanhando o desenrolar desta tragédia também se atentem, antes tarde do que nunca, para este pequeno povo nesta pequena metade de ilha que deu a luz a uma criatividade, uma vontade de viver e uma luta tão invejáveis.

Otávio Calegari Jorge