quinta-feira, 21 de maio de 2009

RELATOS DE UM PROFESSOR ESGOTADO (CRÔNICA IIIa)

José Pastre nos brinda com a sua terceira crônica: "Memória de um sofá I". Desta vez, teremos de aguardar em suspense a continuidade dessa história, ou, como nos sugere Walter Benjamin, podemos nos aventurar a participar da narrativa, criando outros enredos, outras possibilidades para Zenão.

Memória de um sofá I: O fato é que iam para a escola, e iam pelos mais diversos motivos. E ali se encontravam. E tantas coisas aconteciam. Algumas com roteiro já traçado, com o ritmo já estabelecido. Outras imprevistas, inesperadas. Às vezes, quando sentava-se no sofá da sala dos professores, vinha à cabeça de Zenão um conjunto de cenas que ele e seus colegas viviam no dia-a-dia: levantar, ir para a escola, encontrar os colegas professores, assinar o livro ponto, pegar o material, ir para as salas, encontrar os alunos, fazer a chamada, pedir silêncio e atenção, e assim ia o traçado da linha... E Zenão se perguntava se ao repetir aqueles mesmos passos em direção à escola, ao subir aqueles mesmos degraus em direção às salas, repetir os mesmos ritos da profissão, ler os mesmos textos – os mesmos textos? –, ao fazer tudo isso, ele o fazia como Sísifo ou como Proteu? Ou seja, em meio a toda aquela repetição, o trabalho estava condenado ao fracasso? Era uma espécie de danação, à qual todos estavam submetidos, estavam presos? Ou alguma coisa se transformava, alguma coisa se modificava em meio ao que se repetia? Toda aquela repetição era capaz de produzir alguma diferença, fazer diferença na vida dele e das outras pessoas?
Em meio a essas cenas, em meio a essas perguntas, Zenão não deixava de contemplar as pessoas que passavam à sua frente, as coisas que estavam à sua volta. Mas era envolvido por uma espécie de murmúrio, em que se misturavam as vozes das pessoas, os sons de seus corpos em contato com as coisas e outros ruídos da escola, com as cenas que passavam pela sua cabeça. Numa dessas vezes em que contemplava as pessoas, quando distraidamente virou a cabeça para o lado, notou que havia no canto da sala, onde estava o sofá, meio escondido dos olhares das pessoas que circulavam naquele espaço – inclusive de Dona Cida, a senhora que fazia a limpeza da sala –, uma pequena teia de aranha sendo construída. Zenão passou, então, a contemplar o trabalho daquela aranha, estendendo as linhas, tecendo sua teia, até que foi bruscamente interrompido: “Aí, Zenão, pensando na ‘morte da bezerra’”? – Era Carol, a professora de Educação Artística. “Não, estou contemplando a aranha tecendo sua teia”! Uma interrogação caiu na cabeça da Carol, mas Zenão não explicou nada! Ambos riram! Foi quando Zenão se deu conta de que havia dado o sinal para o intervalo e todos os professores estavam entrando na sala. “Quer ver umas fotos que tirei para uma amiga?”, perguntou Carol. “É claro”, respondeu de imediato Zenão, pois ele adorava ver as fotos tiradas pela Carol. Ela tinha um olhar artístico, não por ser uma professora de Educação Artística, mas era uma característica de seu olhar, uma espécie de dom que ela desenvolvera, um modo de olhar as coisas e as pessoas e captar algo de surpreendente, ou algo de intolerável, naquilo que o nosso olhar preguiçoso, ou cansado, se habituou, naturalizou. Outros colegas também haviam desenvolvido este dom, este modo de olhar. Foi o caso de Ana, a professora de Biologia. (continua...)

terça-feira, 19 de maio de 2009

PROJETO ESCOLA LIVRE.

O Jornal da Unesp publicou, em abril de 2009, o Suplemento 243 que apresenta uma reportagem sobre iniciativas promovidas por docentes da Unesp, cujo objetivo é buscar na arte uma forma de apoiar crianças e adolescentes que vivem em situação de risco. O destaque é para o projeto Escola Livre, da professora Sueli Aparecida Itman Monteiro, da Faculdade de Ciências e Letras (FCL), da Unesp de Araraquara.
Sob sua coordenação, um grupo de alunos de graduação e pós-graduação atua em duas escolas, uma na periferia da cidade e outra em São Carlos, organizando oficinas de: teatro, fantoches, música, dança e artes plásticas para jovens e crianças.

“ ‘A idéia é humanizar o combate à violência nessa população, sendo que a arte e qualquer tipo de manifestação cultural servem como um código de proteção aos valores humanos na sociedade’, afirma Sueli. ‘Sem as atividades, esses jovens estariam expostos aos riscos da violência e sendo recrutados pela criminalidade e a prostituição’. O grupo também dá dicas sobre orientação jurídica, pedagógica e sexual aos pais dos participantes do projeto”.

O projeto prevenção da gravidez - uma outra iniciativa da Escola Livre – “oferece aulas de balé clássico a meninas de comunidades de Bauru e Botucatu, onde é alto o índice de gravidez na adolescência. Segundo a responsável pelo projeto, a professora Ana Flora Zonta, da Faculdade de Ciências, câmpus de Bauru, a meta é fazer com que, por meio da dança, elas adquiram maior consciência corporal, com impacto nos comportamentos sexuais e na prevenção da gravidez precoce.
Orientadas por estudantes de graduação, cerca de 600 meninas já freqüentaram o curso. ‘É uma oportunidade de elas passarem a ver o mundo e suas próprias vidas de uma maneira diferente’, observa Ana. Entre os principais reflexos da atividade cultural na vida das adolescentes, ela aponta um maior cuidado com o corpo, envolvimento e disciplina na escola.
Em Bauru, num trabalho coordenado pelo artista plástico José dos Santos Laranjeira, professor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac), alunos do Núcleo de Pesquisa no Ensino e Aprendizagem em Artes Visuais oferecem técnicas de entalhe em madeira para confecção dos instrumentos de percussão e malabarismo, além de ensinar exercícios acrobáticos para crianças e jovens de uma favela da cidade.
‘Exploramos o potencial artístico desses jovens para estimular a criatividade e observação, a sensibilidade estética e a reflexão intelectual’, observa Laranjeira. ‘É um projeto que possibilita o cumprimento da responsabilidade social, a intervenção direta numa realidade problemática, e estimula a auto-estima dos participantes’, acrescenta.

Resultados - Criada em 2003, a proposta coordenada por Sueli já beneficiou cerca de dois mil jovens. A partir de 2005, o projeto passou a atender adolescentes infratores do Programa de Liberdade Assistida, em São Carlos. ‘O objetivo é estabelecer diretrizes de ação na prevenção das práticas que levam à infração’, diz a docente. ‘A escola, da forma como está, não supre as demandas dos jovens, que passam a procurar as ruas’.

Com orgulho, ela informa que a ação de sua equipe já revelou talentos no campo da arte. ‘Vários seguiram a carreira artística, sendo que um deles até participou de uma exposição em São Paulo’, relata. Ana também enfatiza os frutos do esforço de seu grupo, ressaltando que, recentemente, quinze garotas participaram de uma apresentação de dança no teatro municipal de Botucatu.

Embora os jovens que integraram seu projeto não tenham se tornado artistas, Laranjeira ressalva que muitos seguiram atividades profissionais que utilizam habilidades manuais. O docente, porém, lamenta que o trabalho, que nasceu para prevenir a violência, esteja sendo derrotado por ela. Suas atividades foram recentemente interrompidas devido às ameaças feitas por criminosos da favela”.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

OS PROFESSORES LEVAM MAIS UMA PAULADA DO GOVERNO DE SÃO PAULO.

Olá amigos(as)
Com esse título, a profa. Dra. Nora Krawczyk, da Faculdade de Educação/Unicamp, coordenadora do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas e Educação (GPPE) na Pós-Graduação da Faculdade de Educação/Unicamp, nos ajuda a refletir sobre dois temas: formação dos professores e avaliação de desempenho. Se as avaliações indicam que a educação vai mal, de quem é a responsabilidade? Do professor, da escola, das faculdades, das políticas públicas? Quem tem que melhorar?

No dia 6 de maio ficamos sabendo que o Estado de São Paulo abrirá 50.000 cargos efetivos
para professores da rede estadual e criará a jornada de trabalho de 40 horas, permitindo ao professor cumprir toda a sua carga horária numa mesma unidade escolar.
Sem dúvida, duas medidas que deixam a nós, os educadores, muito contentes, já que
tendem a acabar com o professor temporário e possibilitar que as escolas consolidem uma equipe de trabalho cooperativo de longo prazo e maior envolvimento docente com o projeto pedagógico da escola. Certamente são decisões que propiciam a melhora da qualidade do trabalho escolar.
No entanto, as notícias não terminam aí. Para nossa surpresa será criada uma Escola de Formação de Professores do Estado de São Paulo para ‘formar’ os docentes que forem aprovados
no concurso. Isto é, só terá direito a dar aulas quem passar no curso de 4 meses na Escola. Portanto,não será suficiente ter sido aprovado no concurso.
Estamos frente a uma situação no mínimo esquisita, porque parece que o governo do Estado
de São Paulo está abrindo um concurso para selecionar os melhores candidatos no qual nem ele
acredita. Ou será que o governo parte do pressuposto de que a formação docente no Brasil é ruim?
Ou, ainda, de que os futuros professores da rede paulista precisam de um doutrinamento para poder utilizar ‘corretamente’ as cartilhas no lugar de exercer responsável e criativamente a sua profissão?
Não seria mais adequado implementar ações que tornem a profissão docente bem mais
atraente o que, sem dúvida, qualificaria a demanda? O que aconteceria se no lugar de inventar mais instâncias de seleção e de enquadramento se pensasse em melhorar os salários e em oferecer condições de trabalho dignas para um profissional que é responsável pela educação de nossas crianças e jovens?
Se a motivação real de todas estas mudanças é oferecer melhores condições institucionais
para a aprendizagem dos alunos, sem dúvida a implementação de políticas de melhora real das
condições de trabalho dos professores permitiriam também a reflexão coletiva sobre alguns aspectos bastante espinhosos, mas necessários para discutir a qualidade do ensino na escola pública. Um deles são os critérios de alocação dos docentes que, frente à necessidade de não dificultar ainda mais a vida do professor, não levam suficientemente em conta as necessidades institucionais e do público alvo.
Outra questão é a necessidade de repensar o formato do concurso público para professor de
ensino básico. O argumento do governo de São Paulo para a implantação de uma segunda prova de seleção após o curso de qualificação é que a prova administrada no concurso é muito teórica. Nesse caso, pensar na reformulação do concurso para professor de ensino básico de forma que contemple a diversidade de competências necessárias para o bom desempenho docente, tais como conhecimento na área especifica de ensino, dos fundamentos educacionais, competência didática, etc., pode ser um começo de uma tentativa de melhorar as condições de seleção.
Por último e mais uma vez a formação continuada volta à tona. A Escola de Formação de
Professores do Estado de São Paulo pretende focar a prática num curso massivo de 360 hs. para
10.000 professores no começo e posteriormente 50.000, o que implica que uma parte considerável de carga horária seja oferecida a distância. O debate sobre a deficiente qualidade da educação tem enfatizado a importância da melhora da formação básica e continuada dos docentes de todos os níveis de ensino. Ainda que o êxito da educação escolar é resultado de um processo de múltiplas variáveis e que não pode ser reduzido de forma leviana à responsabilidade do professor, sem dúvida a formação de ‘formadores’ se enfrenta hoje a múltiplos desafios. Mas, também não se pode reduzir de forma leviana estes desafios à necessidade de um mero treinamento que, além de bastante custoso, nada indica que possa chegar a ter um efeito significativo na sua atuação profissional.
Além disso, o governo de São Paulo retoma a proposta de submeter os professores
temporários, que hoje representam 40% da rede, a uma prova anual. E os que não forem aprovados serão encostados em algum lugar dos estabelecimentos escolares, para não descumprir a lei.
Se for verdade que o exemplo educa, sem dúvida a atitude do governo do Estado está dando
às novas gerações um péssimo exemplo de respeito aos outros. Mais uma vez os trabalhadores vão carregar nos ombros as conseqüências de políticas públicas antidemocráticas implementadas no Estado de São Paulo nas últimas décadas. Novamente, não seria mais adequado acabar de uma vez com a figura do docente temporário e implementar políticas sistemáticas de aperfeiçoamento profissional no lugar de contaminar o clima escolar com atitudes pouco respeitosas e discriminatórias?
Estas e outras medidas compõem o Programa + Qualidade na Escola do Estado de São
Paulo que, lamentavelmente, mais uma vez desqualifica a imagem do professor. Como pretender
assim que os jovens nos respeitem?

Nora Krawczyk também é pesquisadora do CNPq, co-autora, entre outros livros de “A Reforma Educacional na América Latina nos anos 90: Argentina, Brasil, Chile e México”, editora Xamã, 2008.

sábado, 2 de maio de 2009

YouTube - Amálgama Brasil - Augusto Boal

YouTube - Amálgama Brasil - Augusto Boal


Boal ficou conhecido não só por sua participação no Teatro de Arena da cidade de São Paulo, nos anos de 1956 a 1970, mas sobretudo por suas teses do Teatro do Oprimido, inspiradas nas propostas do educador Paulo Freire.
Para ele, «O Teatro do Oprimido é o teatro no sentido mais arcaico do termo. Todos os seres humanos são atores - porque atuam - e espectadores - porque observam. Somos todos 'espect-atores'»
Gostaria de prestar minha homenagem a Augusto Boal exibindo esse pequeno video. Nele, vemos uma figura simples e apaixonante que, através do teatro, tornava possível a criação de novas formas de vida e de sociedade.