quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

Olá leitoras e leitores do meu blog.
A Miriam Abramovay e o Jorge Werthein publicaram na Folha de São Paulo, em 20 de novembro de 2008, um excelente artigo sobre Violência nas Escolas. Eles me autorizaram a colocar o texto no meu blog. Acho que vocês irão gostar.

Faltam políticas públicas claras, programas em execução que enfrentem decididamente o cotidiano de violência nas escolas
TEMOS AVANÇADO significativamente na nossa capacidade de diagnosticar, prever e entender diferentes fenômenos que se apresentam no cotidiano. As novas tecnologias de informação e comunicação disponíveis nos permitem detectar e identificar fenômenos naturais com grande precisão e antecedência. Em diversas áreas os progressos têm sido -e continuam sendo- notáveis. Os mecanismos existentes de detecção e diagnóstico da realidade nos permitem antecipar alguns possíveis "tsunamis" naturais e sociais. Porém, é preciso ter consciência do potencial dano ocasionado ainda que o problema seja diagnosticado.
Muitas vezes, ao conhecer a realidade apontada, negamos ou escondemos a sua existência, fazemos a chamada "política de avestruz" ou a lei do silêncio. Com essa atitude, não só não encaramos o problema como não conseguimos evitar que ele se repita com conseqüências cada vez mais graves, que vão se multiplicando e se agravando, tornando, assim, sua solução mais difícil.
Esconder debaixo do tapete situações objetivamente graves é uma constante. Tanto no âmbito privado quanto no público. Racionalizamos, elaboramos discursos que analisam o tema para nos tranqüilizarmos. Dizemos o certo, o correto, o indiscutível, embora imediatamente nos imobilizemos, nos acomodemos quase que confortavelmente na coerência teórica de tais afirmações. Deixamos para amanhã o que poderíamos ter feito e enfrentado hoje.
Agora, voltamos a ver um novo caso de violência nas escolas que ganhou amplo espaço na mídia. Temos cotidianamente outros exemplos, não tão dramáticos, que não são veiculados ou permanecem restritos a jornais locais e rádios comunitárias. As violências físicas e simbólicas estão instaladas, em maior e menor intensidade, nas nossas escolas.
Depois de tantos anos trabalhando sobre os temas de violências nas escolas no Brasil e em outros países da América Latina, continua nos chamando a atenção a relativa importância (para não dizer pouca) que se dedica ao assunto. Faltam políticas públicas claras, programas em execução que enfrentem decididamente o cotidiano de violência nas escolas.
Verifica-se grande limitação por parte das autoridades políticas e educacionais para assumir com decisão, coragem e determinação o enfrentamento cuidadoso de um problema que está tendo enorme efeito negativo no cotidiano de ensino e aprendizagem de jovens e crianças.
Isso está enfraquecendo as relações de convivência entre alunos, professores e demais atores sociais que atuam nesse espaço escolar. Por causa disso, está diminuindo de forma acelerada e alarmante, tanto para alunos quanto para professores, o desejo de ir à escola, que deixa de ser um espaço prazeroso.
A preocupação não parece ser entender o porquê desses altíssimos níveis de violência dentro do espaço escolar. As possíveis respostas, em geral, não começam baseadas em um diagnóstico da realidade, mas em generalidades aparentemente eloqüentes, vistosas e comprovadamente ineficientes. A automedicação raramente tem efeitos positivos e duradouros.
Não há intenção de dialogar com professores, alunos, diretores e pais, por meio de mecanismos sistemáticos e científicos, para que sejam elaboradas políticas públicas de longo prazo.
É um equívoco dizer que a resposta é o aumento de câmeras de vigilância, catracas para "expulsar os culpados" ou ampliar a presença das forças de segurança dentro das escolas. Isso é não querer entender o problema em sua real e profunda dimensão. Não é essa a forma adequada de usar as tecnologias para detecção de problemas.
Expulsando os esporádicos responsáveis pela violência, não estaremos expulsando as causas que a originam dentro das escolas. Temos de expulsar as razões que levam às situações constantes de violência para que alunos, professores, diretores e pais voltem a sentir o prazer de estudar, aprender e conviver nesse espaço em que devem se formar os cidadãos de hoje e de amanhã e a escola possa ser, como dizia Paulo Freire, um espaço de felicidade.

JORGE WERTHEIN , 67, mestre em comunicação e doutor em educação pela Universidade Stanford (EUA), é diretor-executivo da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana). Foi representante da Unesco no Brasil.
MIRIAM ABRAMOVAY , socióloga, é coordenadora de Pesquisa da Ritla, integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Juventudes, Identidades e Cidadania e consultora da Cufa-DF (Central Única das Favelas do DF).

2 comentários:

  1. Aurea
    Envio informações sobre os especialistas acima sobre seu trabalho na Ritla.
    Att.






    A RITLA (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana), em parceria com a Secretaria de Estado de Educação/GDF, está realizando um Plano de Convivência Escolar na Rede Pública de Ensino. O projeto busca incentivar, em escolas de ensino fundamental e médio, processos de boa convivência e a prevenção de violências. Parte do processo foi a realização de pesquisa qualitativa e quantitativa, representativa de todos os alunos e professores da rede pública de ensino do DF, entre a 5a série do Ensino Fundamental e o 3o ano do Ensino Médio. A amostra pesquisada foi constituída por seis escolas por Diretoria Regional de Ensino - DRE (quatro de Ensino fundamental – séries finais – e duas de Ensino Médio). A pesquisa dedicou-se à realização de um diagnóstico sobre a convivência escolar, o que consistiu em investigar as relações sociais, os conflitos expressos e latentes no ambiente escolar, identificar as percepções de alunos, professores e do corpo técnico-pedagógico sobre o conflito e a violência, mapear os tipos de incidentes ocorridos, freqüência e gravidade dos mesmos.
    De junho a setembro de 2008 foram aplicados cerca de 10 mil questionários para alunos e 1300 para professores, em 84 escolas amostradas, além de terem sido realizadas entrevistas e grupos focais com alunos e professores.
    A iniciativa de desenvolver uma pesquisa sobre convivência escolar e violência nas escolas com a finalidade de embasar ações concretas, levada a cabo pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, é um empreendimento pioneiro no Brasil. Corresponde a uma etapa fundamental para compreender e retratar a realidade como passo importante na tentativa de estimular uma atmosfera não-violenta nas escolas e a criação do hábito do diálogo e da resolução de conflitos, contribuindo, assim, para a melhora da qualidade de ensino e de aprendizagem e evitando que problemas comuns ao cotidiano cresçam e se desdobrem em desfechos graves.
    A pesquisa dedicou-se à realização de um diagnóstico sobre a convivência escolar, o que consistiu em investigar as relações sociais, os conflitos expressos e latentes no ambiente escolar, identificar as percepções de alunos, professores e do corpo técnico-pedagógico sobre o conflito e a violência, mapear os tipos de incidentes ocorridos, freqüência e gravidade dos mesmos.
    O resultado final da pesquisa será apresentado em um livro a ser lançado ainda no mês de maio/2009.
    Neste âmbito, foram promovidos seminários intitulados Convivência Escolar: debatendo resultados e pensando alternativas, que ocorreram de outubro a dezembro de 2008 com o objetivo de sensibilização e aprofundamento do debate sobre violência e convivência escolar, a partir dos resultados iniciais do diagnóstico que integra o Plano de Convivência Escolar na Rede Pública de Ensino no DF. A devolução dos dados para diversos atores envolvidos na esfera da Educação e no cotidiano escolar constituiu-se em uma fase essencial no trabalho, tanto para divulgar e discutir as principais características do quadro de realidade das escolas quanto para identificar uma série de pontos que demandam maior atenção. Com resultado final da pesquisa novos seminários serão realizados.
    Entre as atividades previstas para 2009 podemos destacar o Curso Juventude, Diversidade e Convivência Escolar, com início em maio/2009. O curso será ministrado por especialistas nas temáticas, sendo organizado, monitorado e coordenado pela RITLA em parceria com a SEEDF. Visa formar um grupo de 640 professores e coordenadores das séries finais do Ensino Fundamental, estimulando-os na complexa discussão sobre violências nas escolas e instigando-os à reflexão aprofundada sobre o tema.
    Importantes temas serão tratados no curso como: violência e sociedade, juventude, família e escola, violência e discriminação no ambiente escolar, gênero e sexualidade na escola, convivência escolar, mediação, drogas e trafico no contexto escolar, gangues, adolescentes em conflito com a lei, entre outros. As discussões terão como produto final um projeto de intervenção social a fim de colaborar com a construção de uma boa convivência no contexto.

    Este curso busca colaborar com a construção de melhores relações no ambiente escolar, a fim de que a escola passe a ser um local de proteção e protegido e que todos os atores sociais possam discutir e dialogar sobre os fenômenos cotidianos que acontecem no contexto.

    Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana
    Red de Información Latinoamericana
    Latin American Technological Information Network

    SHIS QI.09, Conj.15, Casa 15 - Lago Sul
    Cep : 71625-150, Brasilia, DF
    Tel/fax: (55) 61 3248-3805 e 3248-5607
    www.ritla.net

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  2. Ainda sobre a noticia acima.
    Lançada hoje pesquisa sobre violência nas escolas do DF
    Trabalho fornece diagnóstico e pistas para enfrentar problema em todo o Brasil

    A Secretaria de Educação do Distrito Federal e a Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (RITLA) lançaram, nesta quarta-feira, a pesquisa Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: violência e convivência nas escolas. O estudo é resultado de investigação aprofundada das relações sociais e do clima escolar no DF. Para a equipe da pesquisa, coordenada pela socióloga Miriam Abramovay, o retrato exposto no trabalho sintetiza a situação vivida na maioria das escolas públicas brasileiras, daí sua importância também para todo o país.

    “Pela primeira vez no Brasil e na América Latina, uma Secretaria de Educação procura investigar o que está acontecendo no interior de suas escolas”, observou o Diretor Executivo da RITLA, Jorge Werthein, no evento de lançamento da pesquisa, realizado no Museu Nacional, em Brasília. “Este estudo nos subsidia permanentemente na elaboração e implantação de um amplo Projeto de Convivência Escolar na rede pública”, declarou o Secretário de Educação do DF, José Luiz da Silva Valente, também presente ao lançamento.

    A pesquisa é um dos resultados da parceria entre a Secretaria de Educação do DF e a RITLA, que executam atualmente um Plano de Convivência Escolar na Rede Pública de Ensino. Esse plano tem como objetivo incentivar a boa convivência nas escolas e reduzir as diversas formas de violência presentes nos estabelecimentos educacionais. A pesquisa conjugou metodologias quantitativas e qualitativas para a coleta de dados. De junho a setembro de 2008, foram aplicados cerca de 10 mil questionários para alunos e 1300 para professores e diretores. De junho a dezembro de 2008, foram realizados entrevistas e grupos focais com alunos, professores, equipes de direção, além de policiais e seguranças privados das escolas. Foram realizadas, também, observações de campo por todos os pesquisadores envolvidos na pesquisa.

    O estudo adota noção abrangente de violência, procurando identificar não apenas manifestações da chamada violência “dura”, mas também de manifestações de violência simbólica e microviolências. Para se ter uma idéia, quanto a estas últimas, verifica-se alta porcentagem de alunos que observaram a presença (entre 2006 e 2008) de agressões verbais e xingamentos em suas escolas: 74,9%.

    O evento de lançamento da pesquisa e de seu respectivo livro contou também com a presença das deputadas federais Nilmar Ruiz (DEM-TO) e Raquel Teixeira (PSDB-GO), da deputada distrital Eurides Brito (PMDB-DF), do coordenador geral do Observatório de Favelas, do Rio de Janeiro, Jorge Barbosa, e do professor Célio da Cunha, da Faculdade de Educação da UnB, os quais falaram para um audiência formada principalmente por educadores e jornalistas.

    Segundo a deputada Nilmar Ruiz, a Comissão de Educação da Câmara Federal pretende levar a pesquisadora Miriam Abramovay para apresentar aos demais deputados os resultados de suas várias pesquisas sobre violência nas escolas, incluindo a mais recente, lançada hoje, que, segundo a parlamentar, “aplica-se a todos os Estados do país”. A deputada Raquel Teixeira chamou a atenção para a ampliação do papel da escola nos dias de hoje, o que dificulta o trabalho dos professores e gestores escolares, uma vez que a família abdica de parte de sua responsabilidade na educação de crianças e jovens.

    A deputada Eurides Brito, ex-secretária de Educação do DF, destacou o problema do abandono do magistério por parte de professores da rede pública, assustados com a violência nas escolas. O professor Célio da Cunha, da UnB, salientou a relação existente entre clima escolar e qualidade da educação. Segundo ele, a qualidade elevada do processo de ensino e aprendizagem é reflexo também de um bom clima escolar, livre de violência. Jorge Barbosa, do Observatório de Favelas, declarou que “nas linhas (da pesquisa), li muita tristeza, mas nas entrelinhas li utopia”. Para o estudioso, o estudo lançado hoje tem grande importância social e política, uma vez que “não mudamos a história sem conhecer nossos limites”.

    Em seguida à fala das autoridades e convidados à mesa de abertura do evento, a pesquisadora Miriam Abramovay apresentou o estudo, que revela o quanto é preciso avançar para que as escolas públicas atinjam um clima de paz favorável aos estudos. Abramovay destacou, logo no início de sua apresentação, a importância do diagnóstico. Sem ele, qualquer política pública corre o risco de ser inócua. A iniciativa da Secretaria de Educação do DF é um passo na direção de se solucionar o problema.

    A íntegra da pesquisa e seu sumário executivo estão disponíveis neste link (INCLUIR) e no site da Secretaria de Educação do DF, www.se.df.gov.br .

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